A Arca – Associação dos Renais Crônicos de Adamantina completa nesta segunda-feira (9) seus 20 anos de atuação na cidade, em suporte complementar a pacientes renais crônicos da cidade e região que realizam sessões de diálise e hemodiálise, e seus familiares. Em duas décadas, o trabalho de seus dirigentes, colaboradores e voluntários, apoiados pelo poder público e sociedade civil, permite reunir uma coleção de histórias de superação.
A entidade sem fins lucrativos presta assistência aos pacientes e familiares de Adamantina e região através de distribuição de cestas básicas, complementação do fornecimento de medicamentos, atividade de entretenimento durante as sessões de hemodiálise, terapia ocupacional através de artesanato, visitas em domicílios, campanha de prevenção e conscientização (palestras) e apoio aos transplantados.
A Associação conta com o trabalho de voluntários dedicados na realização de seus eventos, entre eles, o Bazar Beneficente permanente, que funciona todos os dias na sede da entidade, além do jantar beneficente, porco no rolete, jantar do Dia Internacional da Mulher, bingo e participação em feiras e promoções municipais que são realizadas anualmente.
Essas ações permitem subsidiar o custeio da entidade e seus serviços. A Arca recebe também apoio do poder púbico municipal, através de subvenção financeira, e doações feitas pela comunidade, igrejas e sociedade civil organizada, e tem sua sede à Rua Mário Olivero, 245 (esquina da Capela da Santa Casa), com telefone (18) 3521-5089.
Vocação para fazer o bem
A entidade foi oficialmente instalada em 9 de setembro de 1999. Toda a concepção institucional e sua missão foram inspiradas pela auxiliar de enfermagem Antônia Maria da Conceição, a “Toninha da Arca”, fundadora e atual presidente da instituição. Ela trabalhava no setor de hemodiálise da Santa Casa e desde então convive diariamente com pacientes e familiares.
Antecedendo a fundação da Arca – lembra Toninha – ela havia passado por uma experiência muito marcante, quando um paciente da hemodiálise chorava bastante e a médica pediu que conversasse com ele.
Recentemente o paciente havia iniciado as sessões de hemodiálise após a constatação médica acerca da retração na sua atividade renal, precisando reorganizar sua rotina, face às limitações ao trabalho. E após se alimentar, o homem agradeceu satisfeito pela refeição que havia feito no hospital e desabafou. “Já tomei café e almocei, mas na minha casa não tenho comida para minha família”, disse o paciente.
Sensibilizada, Toninha tomou o desafio para si. “Vou dar um jeito”, disse à época. Rapidamente ela mobilizou familiares e amigos e conseguiu providenciar uma robusta cesta básica para o homem. “Isso me tocou”, diz hoje, ao relembrar do fato. “A ideia de um trabalho para pacientes nessa condição surgiu nesse momento”, recorda.
Inquieta, Toninha tratou rapidamente de buscar referências, ente elas uma instituição em Tupã, que prestava apoio a pacientes renais e seus familiares. Ela conheceu o trabalho, se apropriou do estatuto para usar como modelo e começou a rascunhar o novo estatuto da nova instituição adamantinense. Conseguiu também reuniu seis pessoas e montou a primeira diretoria e a médica nefrologista Maria Amélia Abdo foi empossada como primeira presidente.
Nasceu então a Arca, que funcionava inicialmente em uma sala da Santa Casa, depois se instalou em uma sala junto ao setor de hemodiálise e por fim ocupa uma sede própria, adquirida pela Prefeitura de Adamantina na gestão do prefeito Kiko Micheloni, que depois de reformada foi doada à instituição.
Com um trabalho consolidado, se tornou referência para outros serviços semelhantes, sendo visitada por voluntários de Dracena e Marília, que visitara a Arca para conhecer suas atividades, com o desafio de replicar essa experiência nas duas cidades.
Dimensão do trabalho
Atualmente, segundo Toninha, a hemodiálise da Santa Casa atende cerca de 90 pacientes. São pessoas de Adamantina e região que dependem dos serviços, cujo equipamento realiza as funções renais, face à limitação ou incapacidade dos órgãos, no corpo humano. O papel da Arca é apoiar esse grupo, dentro e fora do setor de hemodiálise.
No espaço hospitalar, o apoio da Arca se dá com suporte no próprio local, como a recente aquisição de novas poltronas, adquiridas com recursos de eventos realizados junto à comunidade e doadas ao hospital (reveja), além de doações de mantas de inverno par ao hospital, lanche complementar com indicação nutricional adequada a esses pacientes, suporte emocional, entre outras iniciativas.
É no espaço hospitalar que a Arca tem contato com os pacientes e suas histórias, muitas delas de dificuldades e limitações, que se ampliam ainda mais com a restrição decorrente da doença. “Quando identificamos esses casos, atuamos para promover todo o suporte necessário a esse paciente e seus familiares, para que fiquem assistidos e tenham um apoio complementar, e que muitas vezes se torna decisivo”, diz Toninha.
Entre essas ações complementares a pacientes sem condições econômicas, sociais e emocionais, a Arca atua no fornecimento de cestas básicas (média de 50 a 60 cestas mensais), fornecimento de complementos nutricionais, fraldas geriátricas e roupas. Há situações em que a Arca atua para garantir o direito a medicamentos e exames laboratoriais, e quando isso não ocorre, utiliza os próprios recursos financeiros para compra de remédios e contratação de exames laboratoriais e de imagem, entre outros.
Outro destaque é a atuação da Arca no suporte a pacientes que passarão por transplante, onde é exigida uma ampla bateria de exames. “Quando não é possível realizar pela rede pública ou o paciente não dispõe de recursos para fazê-los, agimos para garantir isso e permitir que o transplante ocorra”, destaca Toninha.
As ações em favor dos pacientes, sobretudo carentes, vai mais longe: A Arca já se mobilizou para reformar casas, construir banheiros e a auxiliar casos que estão fora da atenção central da entidade, que são os pacientes renais. Houve um caso, por exemplo, que a instituição se mobilizou para viabilizar uma prótese ortopédica a um paciente, e consegui devolver a qualidade de vida ao mesmo.
Compartilhando histórias
Na semana passada, o SIGA MAIS ouviu três pessoas, que se depararam com a ajuda da Arca em momentos bastante difíceis de suas vidas.
Dois deles são o casal Rodrigo Aparecido Campanha e Marieli Campanha. Eles tiveram dois filhos gêmeos, e ambos nasceram com problemas de saúde. Uma das crianças, com problemas renais, a outra com refluxo. “A Arca, na pessoa da Toninha e todos daqui, foi decisiva para a vida dos nossos filhos”, dizem.
Desde que nasceram, o caso passou a ser acompanhado pela Arca. O casal lembra que o filho com problema renal teve alta hospitalar, após o nascimento, com a expectativa médica de que iria morrer em casa. “Nos deram alta para que nosso filho morresse em casa”, diz Marieli Campanha.
Em uma das crises da criança, os pais voltaram com o menino ao hospital, e depois de passar pelo atendimento de nefrologista, Toninha teve contato com o caso. “Desde então, a Arca nos tem dado suporte integral, em todas as nossas necessidades, desde fraldas, medicamentos, orientações para buscar tratamento em outros centros, hospedagem e alimentação enquanto estávamos fora, leite e suprimentos nutricionais”, lembram. “A Toninha chegou a abrigar a criança na própria Arca, onde também eram realizadas as atividades com uma profissional de terapia ocupacional”, destacam.
Com essa família e diante das necessidades específicas da criança, face à sua condição de saúde, a Arca conseguiu se mobilizar e construiu um quarto com as adaptações necessárias ao pequeno paciente, para as realizações das sessões de diálise, permitindo suporte integral a todas as necessidades do paciente.
Hoje com 13 anos, o filho do casal Rodrigo e Marieli Campanha fez transplante de rim há cerca de 6 anos e desde então tem sido acompanhado e consegue desenvolver suas atividades rotineiras. O irmão gêmeo também recebeu tratamento para suas necessidades de saúde, relacionadas a refluxo, e é acompanhado em sua área.
O casal teve também um terceiro filho. Juntos, os pais e as três crianças conseguiram reorganizar a vida e superar grande parte dos desafios até então vivenciados pela família. “A Arca foi um alicerce importante em nossas vidas e para a recuperação dos nossos filhos, dando apoio e nos incentivando a buscar todos os recursos e serviços possíveis”, dizem os pais. “Nosso agradecimento a Deus, à Arca e à Toninha”, destaca o casal.
O terceiro assistido pela Arca, ouvido pelo SIGA MAIS foi José Antônio Manzatto. Ele conta que em 2014 seus rins paralisaram. “Foi um choque grande pela questão da saúde, e por outros fatores, como a necessidade de parar de trabalhar e ficar à mercê”, lembra. “Fui fazer exame de sangue e de imediato já me mandaram para a máquina de hemodiálise”, destaca.
Foi quando conheceu a Toninha e a Arca, que passou a prestar orientações, informações, esclarecimentos e a assistência, que muitas vezes faltam nos serviços de saúde, como um todo que se restringem aos procedimentos, sem uma conversa mais acolhedora e de orientação.
Com seu quadro renal grave, Manzatto entrou na fila para transplante, o que ocorreu em 27 de abri do ano passado. Nessa condição, foram prescritos diversos exames, realizados junto ao SUS, outros pela rede municipal de saúde, e outros custeados pela entidade. “A Arca foi decisiva para a cirurgia do transplante, e o pós, sempre prestando apoio, o que continua até hoje, sempre à disposição”, reforça. “Por tudo isso se tornou o porto seguro de todos os pacientes renais”, diz orgulhoso, e com sentimento de gratidão. “Por baixo dessa roupa a Toninha tem um par de asas”, completou Manzatto.
“Deus me orienta, e tem feito a obra comigo”
Toninha acompanhou essa conversa com os três pacientes – o casal Rodrigo e Marieli Campanha, e José Antônio Manzatto. Sensibilizada, ela reiterou o papel da Arca, em dar suporte humano e orientação aos pacientes.
Mesmo com a vitalidade e vocação para ajudar a próximo, ela se desdobra, na sua intimidade e com os colaboradores, voluntários e parceiros para superar os desafios que lhe são apresentados diariamente. “Choro junto. Às vezes choro sozinha, para não desestimular o paciente a família. Depois, atuamos juntos para que se reergam”, diz. “Deus me orienta, e tem feito a obra comigo”, continua.
Toninha também faz questão de buscar aquilo que for melhor a cada um dos atendidos. “Sou exigente naquilo que é oferecido aos pacientes. Tem que ser o melhor”, reforça.
Nessa missão humanitária, Toninha conta com o apoio dos colaboradores, voluntários, da sociedade civil organizada, igrejas, poder público e da comunidade como um todo. “Os parceiros enxergam o alcance do nosso trabalho na vida das pessoas, veem nossas ações realizadas com transparência, responsabilidade e credibilidade, e isso só faz multiplicar”, ensina.