Que a tecnologia proporciona um enorme leque de coisas boas, interatividade e muita facilidade, principalmente nos dias corridos que temos, isso todos nós sabemos. Mas como conseguir poupar as crianças dos perigos da internet? Desde que o mundo é mundo sabemos que perigo sempre existiu, (não só na internet) mas a capacidade de encontrar soluções para os problemas faz com que nós, seres humanos, evoluamos a cada novo desafio que nos é imposto.
Um estudo realizado pela organização britânica Internet Matters com 1.500 famílias, descobriu que, hoje em dia, 48% das crianças de 6 anos fazem uso de tecnologias e que 41% delas acessam a internet sem nenhuma supervisão dos pais. A pesquisa revelou também que 44% das crianças entrevistadas utilizam a internet dentro do próprio quarto e 27% ficam online fora de casa. Além disso, 32% são adeptas dos serviços de mensagem instantânea para se comunicar (como o WhatsApp, por exemplo).
Após a conclusão do estudo, a organização britânica se posicionou: "Isso só mostra o quão rápido é o ritmo de mudança no mundo da tecnologia e o quão vital é que os pais criem mecanismos de segurança e entendam alguns dos riscos que existem quando a criança fica online".
Nos últimos dias, a figura da Momo, uma boneca que supostamente estaria 'invadindo' vídeos infantis do YouTube incitando crianças a realizar automutilação, agressão contra outras pessoas e até mesmo o suicídio, ligou o sinal de alerta de pais e especialistas que retomaram o assunto do risco e dos perigos em que as crianças são expostas com o uso da internet, principalmente quando é feito indiscriminadamente e sem supervisão.
O Youtube, inclusive emitiu uma nota dizendo que não foram encontradas evidências reais do desafio na plataforma. Porém, a empresa encorajou que as pessoas denunciem caso encontrem vídeos contendo o "desafio da Momo".
Por mais que o contato com a internet seja inevitável, é importante que os adultos parem para pensar sobre o acesso das crianças ao universo virtual e pondere quais os benefícios e os riscos envolvidos.
A reportagem do Portal Metrópole de Notícias conversou com Fernanda Sprocatti Bond, mãe do Romeu, de 5 anos, que explicou como foi quando ela soube que o seu filho já sabia da existência da Momo. "Quando comecei a receber pelos grupos de Whatsapp os vídeos e informações sobre a Momo, a primeira reação que tivemos em casa foi mostrar a foto dela para o nosso filho e perguntar, sem estresse, se ele conhecia. Quando meu marido virou a tela do celular e perguntou para o Romeu o que era aquele desenho e ele respondeu muito assustado que era a Momo, nós ficamos apavorados. Perguntamos onde ele tinha visto, ele ficou confuso e não soube responder, ele só nos disse que tinha muito medo da Momo. Explicamos para ele que precisa falar para nós o que acontecia e percebemos que ele ficou com muito medo. E isso acabou assustando muito meu marido e eu. O Romeu sempre teve o tablet a noite para assistir os vídeos dele. Conversei com as mães dos amiguinhos dele, muita gente tinha visto, muita gente disse que não conhecia. E o nosso posicionamento em casa foi pela decisão de que o Romeu não assistiria mais vídeos no YouTube. Foi um corte brusco, ele ainda está extremamente chateado com esse corte, e nós só liberamos para que ele assista a noite, filmes e desenhos na Netflix. Ele sente muita falta dos vídeos dele, mas ao mesmo tempo nós percebemos que as crianças não precisam disso para serem mais inteligentes, se desenvolverem, e decidimos substituir por outras coisas, como passear com cachorro, andar de bicicleta, ir pra rua, subir em árvore. Nós decidimos que ele não vai mais ver vídeos e estamos pensando no futuro. Sabemos que não é só a Momo o problema, a internet traz outros 'N' problemas e perigos. Porém precisamos tentar, mesmo com a nossa falta de tempo, substituir o tablet, o celular por coisas palpáveis e reais. A criança precisa entender que o que é real ele pode pegar. Espero que todos tentem tirar o máximo desse mundo paralelo da internet das nossas crianças. Nós fizemos ele sentir que o porto seguro dele está em casa, que é o pai, a mãe, o irmão, a família dele.".
A Psicóloga Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Aline Andressa Gonzales Calister (CRP: 06/108423), em entrevista para a reportagem do Portal Metrópole de Notícias, destacou a importância de tratar com clareza esses assuntos com as crianças. "Nesses últimos dias a Momo tem trazido tensão para os pais no sentido que ela ensina algumas coisas que podem levar as crianças a se machucar. É importante saber que quando vamos fazer uma orientação para a criança a respeito da tecnologia e quanto ela pode influenciar de forma positiva ou negativa, precisamos ser claros e mostrar o que é real, o que está acontecendo. Os pais precisam ensinar as crianças o quanto é importante entender alguns desafios, porque a criança é levada a uma motivação de desafiar, seja os pais, a si mesma, um jogo, enfim, com isso ela não busca se machucar, mas suprir a necessidade do desafio. Quando for conversar com a criança sobre o caso, os pais precisam levantar o sinal de alerta com a internet e dizer claramente que ela pode trazer coisas positivas e também negativas, como é o caso da boneca Momo. Precisamos trazer para as crianças de maneira simples, objetiva e sem rodeios o tamanho do prejuízo que ela terá se entrar nesse desafio. A criança precisa entender que por não ser algo publicado, ser escondido é errado. Os pais devem levar esse questionamento para a criança de que tudo que não pode ser exposto é algo que pode trazer algum prejuízo e pedir para que se acontecer algo nesse sentido, para que avise os pais. Selecionar o que o filho pode assistir ainda é a melhor maneira de privar de exposições e riscos da internet.", enfatizou.