Com a menção bíblica "A verdade vos libertará (Jo 8, 32)", o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, revelou em nota que há uma investigação instaurada para apurar denúncias contra padres que atuam sob sua jurisdição religiosa. A denúncias foram definidas como graves.
A nota foi publicada pelo bispo no site oficial da Diocese de Marília, onde relata ter chegado ao conhecimento da Cúria Diocesana de Marília denúncias que envolvem padres da região, "acusados de não estarem de acordo com as normas e doutrinas eclesiais". A nota não revela detalhes sobre o teor da denúncia nem os nomes dos investigados.
O bispo releva que a investigação já está em curso, com a coleta de provas e oitiva de testemunhas. "Os fatos precisam ser apurados para que a veracidade ou não das informações sejam confirmadas a fim de que as providências adequadas possam ser aplicadas", cita o texto.
Ainda na nota, o bispo destaca que a Diocese de Marília não compactua com atos que ferem os princípios da Igreja e seguem no sentido oposto aos preceitos do sacerdócio. A apuração, no âmbito das normas da Igreja Católica, e as medidas decorrentes da identificação de eventuais responsabilidades, serão aplicadas de acordo com o Código de Direito Canônico. "Apesar da gravidade das acusações apresentadas nas denúncias, a Diocese de Marília entende que o ser humano é passível de erro e tais atos devem ser corrigidos por meio de sanções que sejam compatíveis com cada caso", informa o texto.
Bispo diocesano também é alvo de denúncias
Uma segunda nota - esta do Colégio de Consultores - publicada no site oficial da Diocese de Marília, revela que as denúncias também atingem o bispo diocesano. A nota é assinada por seis presbíteros - cinco padres e um cônego - e também não cita o teor das denúncias.
A manifestação do Colégio de Consultores reitera como positiva a presença e a atuação do bispo Dom Luiz Antônio Cipolini na Diocese, desde sua chegada em 4 de agosto de 2013. "Em todas suas ações, ele sempre está em comunhão dialogada com os diversos conselhos diocesanos: Conselho de Presbíteros, Conselho Administrativo e Econômico, Conselho de Formação, Conselho Diocesano de Pastoral, Colégio de Consultores e Pastoral Presbiterial, e em comunhão com as orientações da CNBB e do Papa Francisco".
A nota do Colégio de Consultores cita também a gestão administrativa e contábil da Diocese e formação dos seminaristas, diáconos e presbíteros. "No aspecto administrativo, a contabilidade foi realizada conforme exigências das leis brasileiras; no aspecto formativo, ele tem acompanhado positivamente o processo de formação inicial dos seminaristas e a formação permanente dos diáconos e presbíteros", continua.
A nota continua informando que Igreja não pode atuar a partir de denúncias anônimas. Diante de denúncias formais (assinadas pelos denunciantes) e com indícios de veracidade, a Igreja prevê investigação sigilosa, processos e penas. Durante o período de Dom Luiz na Diocese de Marília, todas as denúncias assinadas e datadas que chegaram até ele, pelos meios legais de informação, foram e estão sendo averiguadas.
Ao término da nota, os integrantes do Colégio de Consultores reafirmam solidariedade e comunhão com o bispo diocesano. O documento é assinado pelos padres Carlos Roberto dos Santos, José Orandi da Silva, Luiz Eduardo Cardoso de Sá, Valdo Bartolomeu de Santana e Wagner Antônio Montoz, e ainda o cônego João Carlos Batista.
Leia a nota do bispo da Diocese de Marília, na íntegra:
"A verdade vos libertará" (Jo 8, 32)
Chegou ao conhecimento da Cúria Diocesana de Marília a elaboração de denúncias nas quais alguns sacerdotes que compõem o clero da Diocese são acusados de não estarem de acordo com as normas e doutrinas eclesiais.
O documento é de origem anônima. Contudo, para esclarecer quaisquer especulações que possam surgir com a divulgação deste texto, informamos que os fatos apresentados e devidamente assinados já estão sendo averiguados há algum tempo através de uma série de investigações e apurações sigilosas, como coleta de provas e testemunhos.
Ressaltamos, no entanto, que, assim como na esfera civil, todos aqueles que são acusados no âmbito eclesial, independentemente de qual for o caso, são investigados e têm o amplo direito da defesa. Os fatos precisam ser apurados para que a veracidade ou não das informações sejam confirmadas a fim de que as providências adequadas possam ser aplicadas.
Dois pontos importantes a enfatizar:
- A Diocese de Marília sempre esteve e sempre estará em comunhão com a Santa Sé na figura do Santo Padre, o Papa Francisco, e não compactua com atos que ferem os princípios da Igreja e seguem no sentido oposto aos preceitos do sacerdócio;
- Apesar da gravidade das acusações apresentadas nas denúncias, a Diocese de Marília entende que o ser humano é passível de erro e tais atos devem ser corrigidos por meio de sanções que sejam compatíveis com cada caso.
Por tais motivos, a Diocese de Marília esclarece e reforça que já há algum tempo está investigando as denúncias feitas, a fim de ouvir as testemunhas e, por conseguinte, preparar as medidas que serão aplicadas, de acordo com o Código de Direito Canônico. É necessário tempo para que tudo seja esclarecido com justiça e imparcialidade a fim de que a Igreja Particular de Marília, pautada no conhecimento da verdade (Cf. Jo 8, 32), esteja cada vez mais unida com seu clero e seus fiéis na instauração do Reino de paz no Centro-Oeste Paulista.
Marília, 13 de novembro de 2018
Dom Luiz Antonio Cipolini
Bispo Diocesano de Marília
As duas notas, do Bispo Diocesano de Marília e do Colégio de Consultores estão disponíveis aqui.
Site de Marília apresenta detalhes das denúncias (*)
Segundo o site Giro Marília, o episódio pode se tornar o maior caso de ataques a párocos da cidade de Marília e região. "Envolve pelo menos sete padres, alguns com décadas de atuação na Diocese, e um conjunto de informações que perde força por serem divulgadas de forma anônima, mas que ganha impacto pelo conteúdo dos ataques e por incluir imagens e detalhes", diz o site.
Uma primeira manifestação oficial da Diocese, sobre as denúncias, foi em maio deste ano, uma Circular onde a instituição trata a situação como "a realidade desagradável, anônima e conflituosa que nestes últimos dias se abateu sobre nossa Igreja", informa o site.
Ainda segundo o Giro Marília, "a maior parte do "dossiê" trata de infrações ao celibato e acusações de ordem moral - relações amorosas, imagens de participação em conversas por vídeo em site de encontro, relacionamentos em imóveis da Igreja. Mas há situações que podem ir além do direito canônico e invadem a esfera da Justiça comum", informa. "São casos como o de uma funcionária que teria sido demitida para conter a circulação de informações, desvios de recursos de obras para uma paróquia na região e assédio sexual. Há ainda acusação do uso de laranjas para abertura de empresas com recursos de paróquias na região", continua o site.
De acordo com o Giro Marília, a acusação diz que em um dos casos um pároco teria sofrido extorsões e chantagem. A divulgação anônima dos documentos envolve a possibilidade que o responsável pela circulação das imagens e acusações seja o chantagista. "O anonimato nas acusações emperra até investigações formais na Justiça comum. Há instrumentos para que denunciantes com medo de represálias possam ser preservados.
Não há informação de que nenhum deles tenha sido buscado pelo denunciante junto à polícia ou ao Ministério Público nos casos de crimes comuns - assédio, desvios, perserguição de trabalhadores", informa o site.