Famílias com bebês recém-nascidos de Dracena enfrentam dificuldade ao levarem seus filhos para receber a vacina BCG. A dose oferecida pelo SUS na cidade é encontrada no Centro de Saúde ‘Dr. Takashi Enokibara’ (Postão), mas de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde e Higiene Pública, por meio da Vigilância Epidemiológica, não há a vacina BCG desde o início deste mês.
A reportagem do JR e Portal Regional solicitou a informação à Diretoria de Comunicação da municipalidade e a informação foi que o último lote que o Estado recebeu desta vacina venceu no dia 30 de junho deste ano. O Ministério da Saúde não enviou mais nenhum lote.
A Diretoria de Comunicação relatou ainda que segundo o GVE XXII Presidente Venceslau, ainda não há previsão de quando será recebida a vacina. O GVE regional atende 21 cidades tanto da região de Dracena, quanto de Presidente Prudente e do Pontal do Paranapanema.
Os pais que procuram pelo serviço no Postão estão sendo orientados a deixarem os contatos para posteriormente quando a vacina chegar serem comunicados.
A vacina BCG previne a tuberculose, uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium bovis ou pelo Bacilo de Koch. Ela ataca mais comumente os pulmões, mas pode também causar infecções nos ossos, rins e meninges (as membranas que envolvem o cérebro).
A vacina é feita sob o esquema de dose única, normalmente aplicada no recém-nascido. Quando isso não é possível pode ser aplicada em qualquer idade após o primeiro mês de vida, e é indicado fazer isso o mais cedo possível.
A disponibilização gratuita desta vacina está prevista no Sistema Único de Saúde (SUS) e sai do governo federal, passando para os Estados e finalmente chegando aos municípios. Empresas particulares também costumam oferecer a BCG com valor acima de R$ 100 a dose.
A situação em Dracena da falta do medicamento é vivida também por famílias em todo o Estado e São Paulo, assim como entre outros Estados.
Conforme informação do site G1 no dia 6 deste mês, o alcance e duração da redução no abastecimento variam, mas a maioria das secretarias de Saúde de vários Estados apontou alterações a partir de abril e dizem que, apesar destas descontinuidades, não há “falta” de vacinas BCG, mas sim um racionamento.
Inicialmente, o Ministério da Saúde afirmou à reportagem que “o quantitativo autorizado no mês de junho foi reduzido devido à parte do estoque que ainda se encontrava em análise pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS)”, instituição vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e que analisa a qualidade e segurança das vacinas que serão disponibilizadas em todo o país.
Procurada, a Fiocruz afirmou que o INCQS vem cumprindo todos os prazos firmados. A BBC News Brasil retornou então ao ministério com esta nova informação e a pasta enviou um novo posicionamento atribuindo a redução no envio das doses à etapa de importação do produto.
“O Ministério da Saúde aguarda documentação da Organização Pan-Americana de Saúde para liberação das doses que já estão no Brasil. O processo faz parte do trâmite para liberação das doses na alfândega”, afirmou o órgão.
Onde estão os gargalos
Renato Kfouri, presidente do departamento Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), destaca que, da produção das doses à sua injeção, há várias etapas que podem levar a atrasos – o que, no Brasil, é agravado pela burocracia.
Neste caminho, há a importação de vacinas – no caso da BCG, da Índia -, fiscalização alfandegária, inspeções sanitárias, certificações, além de todo o transporte e armazenamento exigido nesta cadeia.
Em 2018, por exemplo, houve também irregularidade no abastecimento da BCG por conta da interrupção da produção destas vacinas na Fundação Ataulpho de Paiva, no Rio de Janeiro. Em 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu as atividades da fundação após uma inspeção, o que impactou o fornecimento.
“O desabastecimento é uma situação constante, não só para a BCG, e nem apenas no Brasil, mas no mundo. O lado bom é que o consumo de vacinas no planeta vem aumentando, e a exigência por qualidade e segurança também. Mas isso não vem acompanhado na mesma velocidade pelo parque industrial mundial”, explica.
“Claro que no Brasil algumas etapas poderiam ser mais rápidas, mas isso certamente não resolveria todas as questões, pois há um problema maior nas condições de produção”, diz Kfouri, destacando a importância da transferência de tecnologia e da produção nacional de doses para chegar mais perto de uma autossuficiência.
O pediatra diz que a vacina, de dose única, deve ser aplicada no bebê o quanto antes – de preferência na maternidade, mas, se não for possível, dentro de aproximadamente um mês. Isto para evitar o seu contato com a bactéria da tuberculose, que ainda tem presença significativa no Brasil e é transmitida de pessoa para pessoa. (Com informações G1)