Frei Francisco e a Santa Casa de Adamantina: 'Aqui é um lugar de futuro'

02/03/2018 08h08 Ao atingir 50 dias na gestão da Santa Casa de Adamantina, Frei Francisco faz balanço.
Redação - Luanna Machado - Fonte na Íntegra: Siga Mais, Adamantina - SP
Frei Francisco e a Santa Casa de Adamantina: 'Aqui é um lugar de futuro' O prognóstico feito pelo Frei Francisco, para que as primeiras melhorias impactem efetivamente a comunidade local e regional e os usuários da Santa Casa local, é de três a cinco anos.

Frei Francisco, que dirige a Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, de Jaci - instituição referência na gestão de serviços de saúde no Brasil - recebeu a imprensa, na última quarta-feira (28), e expôs sobre os primeiros 50 dias no comando dessa unidade hospitalar local. Desde 8 de janeiro os freis atuam na gestão da Santa Casa de Misericórdia de Adamantina.

Ele conversou com os jornalistas no final da tarde, e durante todo o dia manteve diversas reuniões internas e com outros setores locais diretamente envolvidos com os serviços de saúde prestados pela Santa Casa de Adamantina.

Religioso e gestor na área de saúde pública, Frei Francisco dirige a Associação, que por sua vez administra 76 serviços de saúde no Brasil e um no Haiti, entre hospitais, AMES, farmácias e outras unidades.

Seguindo uma linha do tempo, abriu o encontro com a imprensa expondo sobre a vida de São Francisco de Assis, depois discorreu sobre a origem da Fraternidade franciscana, em Jaci, e a Associação, até abordar os temas locais, envolvendo a Santa Casa de Adamantina. "Encontrei uma situação nada diferente dos outros hospitais”, disse. A título de exemplificação, ele comparou a Santa Casa local à Santa Casa de Lins. “Lá, estava em uma situação de abandono e prestes a fechar", relatou.

Assim, após ter contato com a realidade daquele hospital, iniciou-se sua restruturação. "Não é uma restruturação somente econômica. Ela deve ser ampla, especificamente de cabeças, já que muitas vezes as pessoas mentalizam algo, veem aquilo como sacramentado e não aceitam mexer", exemplifica. "As santas casas foram fundadas por pessoas beneméritas, mas chegou um momento que só ter boa vontade não dá mais. Hoje, é preciso boa vontade e conhecimento", ensina.

Vão permanecer os hospitais regionalizados

Conhecedor da estrutura de saúde pública no Brasil, Frei Francisco vivencia o drama vivido diariamente pelas instituições de saúde e, sobretudo, pela população. E na sua visão, apenas os hospitais de referência sobreviverão, face às limitações são custeio e às necessidades cada vez mais imprescindíveis ao funcionamento desses estabelecimentos. "Governo nenhum vai fechar hospitais. É a própria situação que vai fazer encerra”, alerta. “Vão permanecer os hospitais regionalizados", prevê.

No conjunto de necessidades básicas dessas unidades hospitalares, Frei Francisco destaca a importância pelas instalações adequadas - físicas, recursos e equipamentos -e profissionais preparados. Nisso, ele acresce a necessidade de médicos com habilidades nas diversas áreas, face à fragmentação da medicina por especialidades, exigindo o suporte por profissionais em diferentes habilitações. "Antes tínhamos a figura do clínico geral. Esse médico, que acertava tudo, não existe mais", disse. Hoje, segundo Frei Francisco, uma unidade hospitalar precisa contar com uma equipe bastante ampla e equipamentos de tecnologia. "No passado o médico era intuitivo. Hoje, precisa acessar exames diversos e a partir dos mesmos, estuda o caso", completa.

Diagnóstico da Santa Casa de Adamantina

Ao ser perguntado sobre as condições das instalações físicas da Santa Casa de Adamantina, Frei Francisco ressaltou as dimensões do lugar. O desafio, nesse campo, é a necessidade de adequá-lo aos dias atuais. O caminho para essas melhorias e adequações está em curso, com as diversas emendas parlamentares, contraídas pelas lideranças políticas locais junto aos representantes na Câmara dos Deputados, Senado Federal e Assembleia Legislativa, canalizando recursos para os investimentos. "Vai ser possível fazer as adequações no prédio", assegurou.

Em relação ao quadro de profissionais da área médica, Frei Francisco disse que atuam na Santa Casa local cerca de 80 médicos, o que é considerado ponto central para as mudanças e avanços pretendidos. "Precisamos saber se querem continuar aqui", ponderou.

Ao atingir os 50 dias à frente da Santa Casa de Adamantina, Frei Francisco destacou que o momento, até então, é de tomar conhecimento. "A coisa mais difícil é dar um tiro no escuro e não saber onde vai chegar", disse. "E é muito imaturo querer mudar sem conhecer", ensina.

No desafio de conhecer a realidade da Santa Casa local, a equipe sediada em Adamantina trabalha na varredura de cada departamento interno, conhecendo os meios, procedimentos e rotinas, para assim, avaliar e propor as melhorias organizacionais, a partir da expertise dos religiosos e a experiência em âmbito nacional na gestão em saúde.

Como ganhos, Frei Francisco sinaliza que a partir das informações consolidadas sobre a realidade local será possível inserir a Santa Casa na engrenagem do sistema administrado pelos religiosos. Uma das experiências positivas, nesse sentido, será promover as compras integradas ao que é adquirido, em âmbito nacional, para todas as unidades, permitindo ganho no poder de negociação e compra.

Ele citou, como exemplo, a diferença de preço para um mesmo produto, como o oxigênio. É disponibilizado pelo mesmo fornecedor, a diferentes serviços de saúde administrados pelos Freis, porém o custo local é maior. "Aí entra o nosso poder de negociação", explica.

Aposta no curso de medicina e validação do DRS

Para a superação dos inúmeros desafios internos e alcançar parâmetros de serviços em saúde de qualidade, dentro do que esperado pelos usuários, e seguindo a cartilha de gestão hospitalar dos Freis, há duas evidências positivas, citadas pelo Frei Francisco, no cenário local.

A primeira delas é a tendência natural pelo crescimento, diversificação e consolidação de diversos serviços de saúde, especialidades médias e outras habilidades e competências, a partir da consolidação do curso de medicina da UniFAI (Centro Universitário Adamantina). A médio e longo prazos, isso abre a possibilidade da chegada de médicos que possam dar um bom suporte. "É longo o tempo, mas temos a segurança que isso vá acontecer", prevê.

Em paralelo, Frei Francisco cita também a validação do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Marília, que na região representa a Secretara Estadual de Saúde. "Há o apoio da DRS em transformar a Santa Casa de Adamantina, cada vez mais, em um polo regional de suporte para toda a região", revelou. Essa, aliás, foi uma condição bastante avaliada no processo de aproximação dos Freis, para a gestão da Santa Casa de Adamantina.

Inserção na comunidade e resgate da confiabilidade

Ainda dentro do conjunto de desafios, há objetivos que precisam ser alcançados pela Santa Casa de Adamantina. Um deles é promover sua maior inserção na comunidade e resgatar a confiabilidade das pessoas junto à instituição local. "Precisamos reorganiza nossa estrutura e serviços e fazer com que as pessoas voltem a ser tratadas aqui. A confiabilidade nesta Santa Casa precisa voltar", disse. "Senão vamos continuar lotando ambulâncias e levando as pessoas para outros lugares, e a Santa Casa vai ficar aqui, de enfeite", advertiu.

Sobrevivência financeira

E para todos os objetivos traçados serem alcançados, é preciso investimentos. Frei Francisco citou diversas emendas parlamentares, em tramitação, mas vê com cautela esse período eleitoral, que de certa forma engessa ainda mais a administração pública, já burocrática e morosa.

Frei Francisco destacou, como positivo, o anúncio de recursos complementares para custeio dos serviços de urgência e emergência, anunciados sexta-feira (23) pelo Ministro da Saúde, em Marília, que permitirão o aporte complementar de R$ 125 mil mensais para a Santa Casa de Adamantina.

E na segunda-feira (26) um novo encontro foi realizado em Lins, na Santa Casa daquela cidade, administrada pelos Freis Franciscano, com a presença do governador Geraldo Alckmin e representantes de Adamantina. Na oportunidade Frei Francisco solicitou um aporte complementar de recursos - semelhante ao destinado a Lins - o que teve despacho para estudos técnicos, determinado pelo próprio governador. "Essas duas situações vão trazer o equilíbrio econômico", destaca.

Em relação à saúde financeira da Santa Casa de Adamantina, o religioso afirmou haver dívidas. "Estamos levantando tudo. Sabemos que tem e vamos ter que solucionar"

Permanência dos Freis na cidade e avanços na saúde

A atuação dos freis, na gestão da Santa Casa local, está amparada por um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), decorrente da ação civil pública movida em agosto de 2015 pelo Ministério Público da Comarca de Adamantina, que tramitou junto ao Poder Judiciário local, em razão de irregularidades estruturais (físicas, organizacionais e de prestação de serviços), que poderiam ensejar a interdição judicial e até mesmo o fechamento do hospital. A saída para a solução desses e outros problemas estruturais, de organização e gestão foi a busca por especialistas em gestão, levando ao encontro dos freis da Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus.

O TAC fica um prazo inicial de avaliação, de seis meses. Na coletiva à imprensa, Frei Francisco sinalizou aos jornalistas a decisão por permanecer na Santa Casa de Adamantina. "Tem todas as condições de ficarmos", disse.

O prognóstico feito pelo Frei Francisco, para que as primeiras melhorias impactem efetivamente a comunidade local e regional e os usuários da Santa Casa local, é de três a cinco anos. "Aqui é um lugar de futuro e que possa ser um hospital de referência", afirmou.

A coletiva de imprensa foi acompanhada também pelo juiz de direito Carlos Gustavo Urquiza Scarazzato, da 2ª Vara da Comarca de Adamantina, que presidiu o TAC e atuou decisivamente para a vida dos freis a Adamantina. Ao final ele validou o trabalho da imprensa, em informar e sensibilizar a comunidade local.

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