Manifestantes protestam contra mudança de nome de assentamento de Che Guevara para Irmã Dulce, em Mirante do Paranapanema

02/05/2024 09h05 Ato reuniu cerca de 300 pessoas na manhã festa quarta-feira (1º).
Por: G1, Mirante do Paranapanema - SP
Manifestantes protestam contra mudança de nome de assentamento de Che Guevara para Irmã Dulce, em Mirante do Paranapanema Manifestantes protestam contra mudança de nome de assentamento em Mirante do Paranapanema (SP) — Foto: Tedd Jones

Cerca de 300 pessoas se reuniram na manhã desta quarta-feira (1º) para protestar contra a mudança de nome de Che Guevara para Irmã Dulce em um assentamento rural da reforma agrária, de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo, em Mirante do Paranapanema (SP).

A Portaria n° 25/2024, da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), que determinou a mudança do assentamento, foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 26 de março. A partir da publicação, o "Projeto de Assentamento Che Guevara" passou a se chamar "Projeto de Assentamento Irmã Dulce".

Conforme dirigente estadual da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), Tedd Jones Leal, a alteração foi proposta pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). Ele considera a modificação um desrespeito aos moradores do assentamento, fundado há 30 anos, no extremo oeste do Estado de São Paulo, uma região conhecida como Pontal do Paranapanema.

A FNL foi o movimento social de trabalhadores rurais sem-terra que encabeçou o protesto.

“A proposta dele [Tarcísio] é que chame Irmã Dulce. Nada contra isso, é um nome precioso até, com um histórico de luta, de assistência e de tudo que a Irmã Dulce foi na vida dela. Mas, na real, é você mudar a história. É uma falta de respeito com os trabalhadores, uma falta de respeito com o governador que fez o assentamento, o saudoso Mário Covas [1930-2001]”, afirmou Leal ao g1.

O ato de protesto reuniu moradores do assentamento, trabalhadores rurais e também integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), além da FNL.

Durante a ação, que começou às 10h, os manifestantes celebraram o Dia do Trabalhador, pintaram o reservatório de água do local, bem como a sigla do MST na estrutura metálica. Além disso, eles pretendem reformar o letreiro que leva o nome antigo do assentamento.

“O nome atual, na verdade, a gente nunca deixou de chamar de Che Guevara. Ele pode pintar, documentar, fazer o que for , mas para o cidadão, para o morador, para um assentado, nunca vai deixar de ser Che Guevara”, relatou o dirigente da FNL.

Conforme o documento publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, a mudança na nomenclatura do assentamento rural de trabalhadores sem-terra leva em consideração o “notório conhecimento” de que Maria Rita Sousa Brito Lopes Pontes (1914-1992), conhecida como Irmã Dulce, “foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados, sendo assim uma figura que tanto contribuiu com o país e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz”.

Em outubro de 2019, o papa Francisco tornou-a oficialmente a primeira mulher nascida no Brasil declarada santa da Igreja Católica. Assim, ela passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres.

O médico argentino Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967), o Che Guevara, foi um revolucionário marxista que ocupou papel central no movimento armado que derrubou o ditador Fulgencio Batista (1901-1973) e tomou o poder em Cuba em 1959.

Na opinião do dirigente da FNL, a figura de Irmã Dulce é considerada importante para a sociedade e seu nome deveria ser levado em consideração em assentamentos futuros, visto que o nome Che Guevara foi escolhido em 1994, durante uma assembleia entre os assentados, o Itesp e representantes do governo estadual.

“Eu acho louvável que ele [Tarcísio] tenha um assentamento com o nome de Irmã Dulce, que promova o assentamento. Nós temos aí quatro mil famílias acampadas e aguardando ser assentadas. Então, ele pode fazer uns 10 assentamentos com nome de Irmã Dulce, mas esse aqui é uma coisa que não é dele. Aqui é um assentamento histórico, que foi feito nos anos 90”, enfatizou.

Segundo Leal, atualmente o assentamento possui 48 famílias, que residem em sítios, e formam uma população de aproximadamente 200 moradores.

Posicionamento do governo estadual

Em nota ao g1, o governo do Estado de São Paulo informou que o Instituto de Terras de São Paulo, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, decidiu pela alteração do nome do assentamento como uma homenagem à figura de Irmã Dulce, "uma brasileira notável que se dedicou a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados".

"Reconhecer o legado de Irmã Dulce é uma forma de valorizar suas contribuições para o Brasil e de celebrar sua relevância como uma das grandes personalidades comprometidas com a construção de um mundo mais justo e inclusivo, inclusive com indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 1988", concluiu o informativo do governo paulista.

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