O suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata um brasileiro a cada 45 minutos e uma pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer.
Apesar de números tão alarmantes, o assunto é evitado e tratado como tabu, o que só colabora para o aumento dos casos, pois as pessoas muitas vezes não sabem que podem procurar ajuda. Segundo a Organização Mundial da Saúde, existe prevenção em mais de 90% dos casos de suicídio.
A Reportagem do Portal Metrópole de Notícias e Rádio Metrópole FM entrevistou a psicóloga especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Aline Calister, que deu mais detalhes sobre esse assunto tão delicado. "A campanha Setembro Amerelo visa conscientizar a população da importância do combate e da prevenção ao suicídio. O dia mundial de prevenção ao suicídio é 10 de setembro, mas desde 2015 a Organização Mundial da Saúde entendeu que seria importante estender para o mês todo devido ao aumento do índice de suicídio. Então a campanha traz informações importantes sobre o que pode levar uma pessoa a cometer tal ato.", disse.
Aline Calister destacou alguns dos transtornos que podem levar uma pessoa a cometer o ato de tirar a própria vida. "Nós precisamos entender que existem várias situações que podem levar uma pessoa a tentar contra a própria vida e é interessante observarmos que não é somente uma situação. Existem muitos transtornos mentais graves que podem levar ao suicídio, porém o mais recorrente é o transtorno de depressão. Existem pesquisas da OMS que relatam que em 2020, a depressão será a maior causa de afastamentos de trabalho por doença no Brasil. Essa doença tem várias características, mas as principais são os pensamentos da pessoa e a verbalização que ela traz. Pensamentos de desesperança, desânimo, uma tristeza profunda que não tem causa aparente, vazio sem explicação, sentimento de culpa, perda ou excesso de sono, perda de apetite, a pessoa se torna mais parada, calada e pode se perceber uma diminuição das atividades diárias.", observou.
A psicóloga lembrou que para todos esses transtornos, principalmente a depressão, existe cura. "É possível curarmos os pensamentos que causam o suicídio e também a depressão, mas é importante sabermos que sozinhos não chegamos a lugar algum. O tratamento precisa ser multidisciplinar, com terapias farmacológicas onde o psiquiatra trabalha junto com o atendimento psicológico e com essa junção trabalhamos a mudança de pensamento desse paciente. As terapias alternativas como atividades físicas, ouvir música, yoga, também são de extrema importância para levar ao desempenho positivo desse tratamento.", disse.
Falando sobre as linhas de trabalho no segmento psicológico, Aline Calister comentou sobre pesquisas que destacam a Terapia Cognitiva Comportamental como uma das mais indicadas para o tratamento da depressão. "Existem várias linhas de trabalho nesse segmento e hoje as pesquisas científicas mostram que, de todos os tratamentos indicados para a depressão, a mais favorável é Terapia Cognitiva. Com ela, nós trabalhamos tanto com as questões do inconsciente, como com a mudança de pensamento e comportamento do paciente. Focamos em como a pessoa pensa diante das questões da vida, como esse paciente consegue enxergar a vida, porque quando ele idealiza um pensamento de morte e planeja um suicídio, precisamos trabalhar nas distorções desse pensamento. Mas é claro que é importante ter o amparo de todas as terapias para juntas tenhamos um melhor resultado, já que esse é um problema de saúde mental e de saúde pública, mas tem tratamento e o melhor, tem cura.", destacou.
Aline Calister, em entrevista à reportagem do Portal Metrópole de Notícias e Metrópole FM, deu algumas dicas de como podemos identificar alguém que esteja com pensamentos suicidas. "Prestar atenção em tudo o que essa pessoa pronunciar pode favorecer uma prevenção de intenção suicida. É importante nós acabarmos com aquele mito de que se uma pessoa que fala que vai se matar, ela não se mata. Na verdade o que acontece é que a pessoa realmente não quer acabar a vida, ela quer pedir socorro, quer mostrar que precisa de ajuda e um dos pontos cruciais e que precisamos entender é que a pessoa não tem força nem para pedir ajuda e nem para modificar o seu pensamento de tristeza, então ela enxerga que a única saída para acabar com esse sofrimento é o suicídio. Essa é a forma que ela visualizou para conseguir acabar com o seu problema. Então é muito importante que as pessoas ao redor fiquem atentas, principalmente a algumas falas como 'logo vocês vão ficar livres de mim', 'fica tranquilo que eu não vou mais dar trabalho para vocês', 'está tudo escuro na minha vida', frases como essas podem ser um prelúdio do ato dessa pessoa.".
A psicóloga destacou que as pessoas próximas podem ajudar na prevenção de um ato suicida, mas também alertou sobre alguns erros comuns que cometemos diante de uma pessoa depressiva. "Quem convive com essa pessoa, pode ajudar para que a tentativa de suicídio não aconteça, mas para isso é preciso ter a sensibilidade de ouvir. Os maiores erros cometidos por familiares e pessoas próximas são a critica ou o julgamento errado. A pessoa quer conversar e começa a falar do seu sofrimento, só que acaba escutando da família 'isso é normal, calma que vai passar', 'vai na igreja, orar vai ter ajudar', 'vamos sair um pouco, você precisa se ajudar', e na verdade essa pessoa tem vontade porém não tem força. Então fica o alerta, se não existir uma sensibilidade de entender o que a pessoa fala, você não estará ajudando mas sim auxiliando no processo de uma ideia suicida. O familiar precisa ouvir sem criticar ou julgar e também procurar ajuda entendendo que essa pessoa precisa de tratamento.", finalizou.