Bovespa alcança 100 mil pontos pela 1ª vez, perde patamar, mas bate novo recorde

19/03/2019 05h47 O Ibovespa terminou o dia em alta de 0,86%, a 99.993 pontos.
Por G1 , Brasil
Bovespa alcança 100 mil pontos pela 1ª vez, perde patamar, mas bate novo recorde O Ibovespa atingiu às 14h44 a marca histórica de 100 mil pontos. (Foto: Reprodução)

O Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, a B3, fechou em alta nesta segunda-feira (18), dia em que alcançou a marca de 100.000 pontos pela primeira vez, favorecido por expectativas positivas sobre o andamento da reforma da Previdência, além do viés de alta nos ativos de risco no exterior. A bolsa não sustentou o patamar - mas, ainda assim, bateu novo recorde de fechamento.

O Ibovespa terminou o dia em alta de 0,86%, a 99.993 pontos. Veja mais cotações. Às 14h44, o índice atingiu o patamar de 100 mil pontos. Na máxima do dia, foi a 100.038. No acumulado do ano, a bolsa sobe por volta de 13%.

Ibovespa bate 100 mil pontos, mas segue abaixo do recorde real de 2008

Barreira histórica

"Isso marca a quebra de uma barreira histórica, mas, na nossa visão, é só o começo do que está por vir", afirmou à Reuters Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos. Ele não descarta volatilidade, com alguma realização de lucros nos próximo meses, mas ressalta que o quadro estrutural é muito positivo.

Investidores veem a mudança no regime atual de Previdência do país como crucial para a melhora da situação fiscal brasileira, a fim de estabilizar o comportamento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que alcançava 76,7% em janeiro, o dado mais recente disponível.

Uma melhora nesse quadro teria efeito de queda na curva longa de juros do país, que é vista como uma das principais métricas para o investimento em ações.

"A marca dos 100 mil pontos é mais um passo na tendência altista do Ibovespa", afirma Daniel Gewehr, chefe de estratégia em renda variável para América Latina no Santander Brasil em São Paulo. "Nosso preço-alvo para o Ibovespa é ainda maior, de 115.000 pontos para o final de 2019."

Pela mediana de estimativas compiladas no mercado pela Reuters em fevereiro, o Ibovespa deve chegar a 120 mil pontos até o final do ano.

Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual digital, o fator psicológico dessa marca representa uma "virada de página" das expectativas para a Previdência. "Mostra que virou a página sobre a questão, que (o mercado) vê ela está caminhando."

A proposta que muda as regras das aposentadorias foi encaminhada ao Congresso Nacional em fevereiro. No dia 13 foi instalada a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, primeiro colegiado em que ela tramitará, e a primeira reunião deve ocorrer nesta semana.

"Não muda muito o Ibovespa estar em 99 mil pontos ou 100 mil pontos, mas é algo psicológico", reforçou o Viccenzo Patrnostro, responsável pela área de renda variável da Legacy Capital.

Além da reforma da Previdência, o mercado também monitora os planos de privatização dos governo, leilões de concessões de infraestrutura, venda de ativos entre outras medidas com potencial de sanar a questão fiscal do país.

A melhora das perspectivas fiscais é o que deve atrair o capital externo que segue afastado ou detém posições ainda relativamente tímidas na bolsa brasileira.

Em 2017, havia elevada expectativa de que o governo do ex-presidente Michel Temer conseguisse avançar com uma reforma nas regras das aposentadorias, mas os planos foram atropelados após denúncias de corrupção enfraquecerem a base política.

 

"O fluxo estrangeiro vai ser o responsável por uma nova mudança de patamar do Ibovespa...mas ele não deve vir - ou fará posições pequenas - até que ocorra a aprovação da reforma", ressaltou Patrnostro, citando que esses agentes podem preferir perder o começo do movimento de olho em um horizonte maior.

Dados da B3 sobre as negociações de estrangeiros no segmento Bovespa mostram saída líquida de R$ 598 milhões neste ano até o dia 14. "A percepção é de que investidores estrangeiros entrarão e maneira mais relevante no país quando tivermos algo mais concreto em termos de aprovação da previdência", afirmou Gewehr.

O desempenho das companhias na temporada de balanços também aparece como suporte para tal performance do Ibovespa, bem como para as perspectivas otimistas para o mercado à frente.

"A Previdência está muito no radar, mas há também outros fatores, como a melhora no desempenho das empresas", ressaltou Zanlorenzi.

Agentes financeiros têm reiterado a visão positiva para a bolsa brasileira com base na aposta de avanço da agenda econômica da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas não descartam volatilidade até a concretização dos planos do guru econômico do presidente Jair Bolsonaro.

Patrnostro, da Legacy Capital, não descarta realização de lucros no curtíssimo prazo, uma vez que o desfecho da tramitação da reforma é desconhecido. "A bolsa andou bastante este ano, já colocou no preço bastante chance de a reforma passar".

No longo prazo, contudo, a avaliação no mercado é de que, se aprovada, o otimismo com a reforma tende a prevalecer a qualquer eventual movimento de embolso de ganhos. Entre os riscos para tal cenário estão o fracasso na implementação da pauta positiva de Guedes e equipe, notadamente as mudanças na Previdência, uma vez que deixaria o país em uma situação fiscal insustentável e afugentaria investimentos, necessários para a retomada do crescimento econômico.

Uma eventual desidratação acima que o mercado também pesaria nas ações. O texto original da proposta de reforma prevê economia de R$ 1 trilhão, mas agentes financeiros trabalham com uma faixa ao redor de R$ 750 bilhões.

Também o cenário externo pode frustrar os prognósticos favoráveis, principalmente um desenlace negativo nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e China, o que teria impacto direto em papéis sensíveis ao movimento de commodities, que têm peso relevante no índice.

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