Cinco redes europeias de supermercados e uma fabricante de alimentos comunicaram nesta quarta-feira (15) que não vão mais vender carne bovina com origem no Brasil ou produtos de carne ligados à empresa brasileira JBS por causa de recentes denúncias de destruição da Floresta Amazônica.
As seis redes são o grupo holandês Ahold Delhaize (que inclui as marcas Delhaize e Albert Heijn), a também holandesa Lidl Netherlands (que pertence ao grupo alemão Lidl), a belga Carrefour Belgium (subsidiária do grupo francês de mesmo nome), a francesa Auchan e as britânicas Sainsbury's e Princes Group.
Os compromissos assumidos variam de uma empresa para a outra. A Lidl se comprometeu a não vender mais carne com origem na América do Sul a partir de 2022. A Albert Heijn, maior rede de supermercados da Holanda, comunicou que vai parar de vender carne brasileira. Já a Delhaize e a Carrefour Belgium não vão mais vender salgadinhos de charque e outros produtos da marca Jack Link's, associada à JBS.
A Albert Heijn esclareceu que tem em suas prateleiras apenas alguns poucos salgadinhos feitos com carne brasileira. A Sainsbury's afirmou que pretende eliminar a carne do país da sua marca própria de corned-beef, mas acrescentou que 90% do produto já vêm do Reino Unido e da Irlanda.
'Lavagem de gado'
Os boicotes foram anunciados depois de uma investigação das ONGs Repórter Brasil e Mighty Earth acusar a JBS de adquirir reses criadas em áreas desmatadas, dentro de um esquema conhecido como "lavagem de gado".
Neste esquema, o gado criado em áreas desmatadas é transferido para uma fazenda regularizada e depois vendido para o abate. Dessa forma, a origem dele é mascarada.
"Esses não são compromissos vagos ou anúncios bonitinhos que ficam bem em comunicados de imprensa, mas uma série de ações comerciais concretas adotadas por algumas das maiores redes de supermercado da Europa para parar de comprar e vender carne bovina de uma empresa e de um país que fizeram muitas promessas, mas apresentaram poucos resultados", afirmou o diretor para a Europa da Mighty Earth, Nico Muzi.
JBS promete tolerância zero
A JBS declarou à agência de notícias Reuters que mantém tolerância zero com o desmatamento ilegal e que bloqueou mais de 14 mil fornecedores por descumprirem suas normas.
A processadora de carne disse que o levantamento da Repórter Brasil mencionou somente cinco de 77 mil de seus fornecedores diretos e que estes fornecedores se adequavam às suas políticas na ocasião da compra.
A empresa acrescentou que monitorar fornecedores indiretos (que fornecem ao fornecedor final) é um desafio para todo o setor, mas que pretende criar um sistema para isso até 2025.
Os fornecedores indiretos são aqueles que vendem bezerros e boi magro para engordar em fazendas regulares e que não são fiscalizados por governos e empresas.
O desmatamento na Amazônia subiu no governo do presidente Jair Bolsonaro. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, atingiu 13.235 km², segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Número equivale a mais do dobro da área do Distrito Federal e é o maior desde 2006.
Não é a primeira vez
Em maio, grandes supermercados e produtores de alimentos europeus ameaçaram boicotar produtos do Brasil por causa do Projeto de Lei 510/21 que, afirmam, levaria a um desmatamento maior da floresta amazônica.
A proposta é, basicamente, uma reformulação do texto da MP 910 – que foi publicada em dezembro de 2019, mas perdeu validade por não ter sido votada dentro do prazo limite, até maio de 2020 – e do PL 2.633/2020, que foi aprovado na Câmara.
O grupo foi composto por grandes redes de supermercados britânicos como Tesco, J Sainsbury, Marks & Spencer, assim como a alemã Aldi.
Empresas de produção de alimentos como a National Pig Association, o fundo público de previdência sueco AP7 e outros gestores de investimentos também estão na lista.