O PL do presidente Jair Bolsonaro elegeu 126 deputados estaduais, triplicou seu tamanho e se tornou o partido com a maior presença nas assembleias legislativas, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO. A legenda é seguida pelo PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também teve uma forte arrancada, saindo de 85 parlamentares eleitos em 2018 para 117 neste pleito.
Esse novo equilíbrio de forças no pelotão de deputados estaduais pelo Brasil no ano legislativo de 2023 espelha a composição da Câmara dos Deputados, onde PL e PT também formarão as maiores bancadas do país. Segundo especialistas, o próximo arranjo das assembleias — assim como o do Congresso Nacional — aponta para a influência que a disputa no plano nacional entre Bolsonaro e Lula assumiu nas disputas regionais.
É o que defende o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Josué Medeiros. Ele acredita que a cristalização rápida das intenções de voto entre os líderes das pesquisas determinou a definição da escolha para os políticos regionais.
— Essa polarização mais forte da política nacional começa a se enraizar na sociedade e pautar as lógicas de voto locais, coisa que não fazia antes — avalia o especialista. — Nesse primeiro turno tivemos a votação presidencial com a menor distância entre os líderes da História. Nas eleições dos governos dos estados, a terceira via não teve espaço, e a maioria também se polarizou entre um candidato alinhado a Bolsonaro e um a Lula.
No Rio de Janeiro por exemplo, berço político do presidente Bolsonaro, o PL saltou de apenas um para 17 deputados estaduais e se tornou a maior bancada do Legislativo do estado. Entre os eleitos estão figuras novatas na política que pegaram carona na onda bolsonarista de 2022, como Thiago Gagliasso e a irmã do vereador Gabriel Monteiro, Giselle Monteiro.
Já o PT, que havia perdido o protagonismo na esquerda fluminense para o PSOL, saiu de três para sete deputados na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), tornando-se a maior bancada de esquerda da casa e terceira maior no total.
O cenário se repete na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Lá o PL formou a maior bancada, com 19 deputados, enquanto o PT ocupa a segunda posição, com 18.
Atrás dos partidos de Bolsonaro e Lula no ranking de bancadas das assembleias estaduais estão União Brasil (94), MDB (94), PP (87), PSD (77), Republicanos (74), PSDB (54), PSB (54) e PDT (43). Em relação a 2018, os partidos da base do governo Bolsonaro tiveram os crescimentos mais expressivos. O Republicanos saiu de 42 em 2018 (quando ainda era PRB) para 74, enquanto o PP saiu de 70 para 87.
Outro fator que chama atenção na comparação com 2018 é o encolhimento do PSDB. Os tucanos perderam 20 cadeiras, caindo de 74 para 54 deputados estaduais. De acordo com Medeiros, isso aponta para uma radicalização do perfil da direita brasileira.
— É uma substituição da direita tradicional pela extrema-direita — aponta, o cientista político, ressaltando que no plano federal o PSDB só fez 13 deputados.
Conhecido pela sua capilaridade, o MDB se manteve estável em relação a 2018. Já partidos de centro-esquerda, como o PDT e o PSB, também tiveram quedas significativas, perdendo dez deputados cada um. Ainda segundo Josué Medeiros, essa queda também pode ser explicada pelo contexto da polarização, que prejudicou o desempenho de partidos mais ao centro.