Apesar de ter conseguido sair, junto com a família, de helicóptero, da região atingida pelas chuvas no litoral norte de São Paulo, a empresária Pamela Garcia Lopes Hanamoto, de Tupã (SP), lamenta pelas famílias que ficaram para trás.
"Queria poder trazer todo mundo. Muita gente procurando entes queridos no meio da confusão", diz Pamela, que chegou a Tupã na madrugada desta quarta-feira (22), após desembolsar R$ 15 mil por dois voos.
Estavam com ela no litoral o marido, a filha de 7 anos, seus pais e a sogra, idosos. O cenário deixado por eles em São Sebastião foi descrito como de guerra. "Nós já estávamos fazendo racionamento de comida", conta.
No hotel em que a família estava, um dos poucos imóveis com energia elétrica, devido a um gerador, e internet, primeiro as crianças se alimentavam, depois os idosos e, por último, os adultos. Nesta terça-feira (21), segundo a empresária, já não havia mais água.
Um dos helicópteros utilizados para a retirada de família de Tupã da região afetada pelas chuvas em São Sebastião (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Até esta quarta-feira (22), a tragédia havia matado ao menos 38 pessoas e deixado dezenas de desaparecidos e milhares de desalojados. Diante deste cenário, a empresária também criticou o aumento abrupto nos preços de água e da viagem de helicóptero.
"Tentamos sair da cidade e não conseguíamos, encontramos muitas barreiras, muita lama, muita gente gritando, pessoas que conseguiram salvar seus animaizinhos e mais nada", relata a empresária.
Pamela também descreveu diversas pessoas chorando e gritando em meio a outras que procuravam pessoalmente por parentes e conhecidos desaparecidos. "Por outro lado, também começou a chegar muita doação, houve solidariedade."
"Muita gente está conseguindo sair de lá, ser resgatada. Mas não sei o que vão fazer com as pessoas que moram ali, que estão desalojadas e não têm para onde ir", afirma.
Entenda
A família de Tupã chegou na quinta-feira (16) ao hotel no bairro Camburi, para uma temporada de carnaval em seu local preferido para férias.
Após os estragos, na manhã de domingo (19), de acordo com Pamela, começou a haver um intenso fluxo de helicópteros para retirada de turistas e entrega de mantimentos e outros donativos.
Pousos e decolagens passaram a ser feitos de um campo de futebol próximo ao hotel em que a família estava, segundo o relato dela. Pamela disse que recebeu propostas de voos por até R$ 40 mil.
Um preço menor foi negociado pelo voo e a família precisou da ajuda de amigos para conseguir fazer o pagamento à vista, via pix, ainda na noite de segunda-feira (20).
O carro, com a maioria dos pertences da família, precisou ser deixado para trás e a turista ainda não sabe como vai buscar o veículo.
Após embarcar os pais e a sogra, Pamela contou que ainda precisou esperar cerca de 25 minutos até a chegada de uma segunda aeronave.
"Começou a cair uma chuva, um temporal muito feio e, em 10 minutos, as ruas já estavam totalmente alagadas e o desespero foi tomando conta. Aqueles helicópteros, quatro, cinco no ar e três no chão, saía um, outro pousava", descreveu a empresária.
Mesmo com a tempestade, o helicóptero em que Pamela estava com a filha e o marido levantou voo. O trajeto levou muitas horas, em meio a uma forte tempestade, e exigiu uma aterrissagem de emergência no meio do caminho.
Após momentos de desespero, a família finalmente chegou a São Paulo, onde amigos aguardavam para dar carona até Tupã.