Cerca de 64.300 casos de sífilis adquirida foram registrados no Brasil somente no primeiro semestre de 2021, segundo dados atualizados do Ministério da Saúde. O número é 16 vezes maior do que em todo o ano de 2010, quando 3.936 pessoas foram diagnosticadas com a doença.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e pode ser passada para o bebê durante a gestação ou parto.
Quando há a infecção, vários sintomas podem surgir, incluindo manchas no corpo e feridas no local de entrada da bactéria que podem desaparecer sozinhas, o que dificulta o diagnóstico.
Os homens representam mais de 62% dos casos de disseminação da bactéria chamada Treponema pallidum.
À CNN, a médica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Cecília Roteli, afirma que a causa do aumento expressivo da sífilis é a falta de tratamento adequado, além da falta do uso de preservativo.
"Na realidade, todas as doenças infecciosamente transmissíveis têm como motivo a falta de tratamento, porque sem ele a circulação da bactéria é muito maior. Os homens geralmente têm mais receio de ir ao médico do que a mulher e isso influencia para o maior número de casos. Não diria que essa explosão de sífilis é uma alteração de comportamento dos brasileiros", afirma a ginecologista.
O levantamento feito pela CNN mostra que o Sudeste representa cerca de 45% dos casos. Em seguida, aparecem o Sul (22%), Nordeste (16,5%), Norte (8%) e, por último, o Centro-Oeste (7%).
A ginecologista ressalta que a pandemia da Covid-19 influenciou na alta de casos, já que a população ficou afastada dos postos de saúde.
"A gente ainda deve ter um agravamento de casos de sífilis congênita, quando a mãe não tratada corretamente passa a doença para o bebê durante a gestação. Isso porque, durante a pandemia, muitas grávidas não foram ao médico de forma constante e não tiveram diagnóstico, o que é muito sério", diz.
Somente nos seis primeiros meses deste ano, quase 11 mil (10.968) crianças menores de um ano de idade tiveram sífilis congênita, ou seja, quando é transmitida pela mãe. Quase todas elas (96,2%) receberam o diagnóstico positivo para a doença com até uma semana de vida.
As mães podem ter diversas complicações sérias por causa da sífilis, como aborto espontâneo, parto prematuro e o feto ainda pode sofrer com malformação ou cegueira.
No primeiro semestre deste ano, foram registrados 330 abortos em decorrência da sífilis, enquanto houve o registro de 267 natimortos, quando o feto não resiste após 20 semanas de gestação.
Em todo o Brasil, 27.213 mulheres tiveram sífilis durante a gravidez, a maior parte tinha entre 20 e 29 anos e mais de 66% eram pardas ou negras.
Ainda segundo dados do Ministério da Saúde, 23,1% dessas mulheres completaram o ensino médio e somente 1,4% terminaram a faculdade. A ginecologista Cecília Roteli, no entanto, ressalta que o aumento de transmissões em classes mais altas também é uma realidade entre os brasileiros.
Diante do cenário de alta, o estado do Rio iniciou uma campanha para o diagnóstico rápido da doença, que ocorre até a próxima quinta-feira (25). Serão oferecidos 130 testes rápidos por dia para a detecção de sífilis.
Só no território fluminense, quase seis mil pessoas (5.908) adquiriram sífilis no primeiro semestre deste ano. Outras 4331 gestantes tiveram a doença em todo estado.
secretário de saúde do Rio, Alexandre Chieppe, destaca que é fundamental seja feito o diagnóstico precoce da doença para que o tratamento seja realizado o mais rápido possível.