Tupã pode voltar a "andar” nos trilhos. O caminho a percorrer é longo e apesar das locomotivas modernas exigirem traçados cada vez mais retos, o trajeto entre a intenção de reativar a ferrovia entre São Paulo e Panorama e a sua efetiva concretização é sinuoso, depende muito das "curvas” típicas da política e suas regulamentações relativas a contratos de concessão pública.
Mas apesar de toda essa distância, de toda sinuosidade, o anúncio da reativação comercial de vários ramais férreos pelo Estado de São Paulo já despertou o interesse de diferentes setores econômicos e já causa ebulição em várias cidades, incluindo Araraquara, Rio Claro e São José do Rio Preto.
Por estas cidades já passa um ramal que está sob a concessão da empresa Rumo, que usa a via férrea para transporte de cargas. O anúncio da continuidade dessa concessão pública significa que pode haver uma série de investimentos para a melhoria da ferrovia, entre elas redefinição e duplicação de traçados para torná-los menos sinuosos e sem tantas rampas.
O projeto da Rumo prevê ainda, no ramal que passa por Araraquara e outros que devem ser reativados, a eliminação de passagens de nível, a construção de um contorno férreo na cidade de São José do Rio Preto e de pátios de manutenção e manobra fora da cidade de Araraquara.
Os investimentos serão feitos para garantir que os comboios possam percorrer os trilhos a uma velocidade constante de 80 quilômetros por hora, não precisando reduzir quando passam por cidades. Hoje, como as ferrovias cortam os centros urbanos, vários com passagens de nível, a velocidade dos trens chega a ficar abaixo de 30 quilômetros por hora.
Segundo Guilherme Penin, diretor regulatório e institucional da empresa Rumo, em entrevista à Folha de São Paulo, "a meta com todas as obras, que incluem duplicação de trechos e ampliações de pátios, é fazer com que o transporte ferroviário alcance 70% do volume de cargas que chegam ao porto de Santos”. Para isso será necessário reativar os ramais hoje parados, como a linha férrea entre São Paulo e Panorama, passando por Tupã.
De acordo com Penin, no primeiro momento a Rumo prevê investir na modernização do chamado ramal "Panorama” até Tupã. Isso possibilitaria o transporte de cargas e principalmente de açúcar, como já foi feito em épocas anteriores, até o Porto de Santos. Depois, na segunda etapa da obra de modernização da malha ferroviária do Estado, aí se fariam as obras entre Tupã e Panorama.
Penin disse ainda que a previsão é realizar todas as obras previstas no projeto entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) até 2028. "Como é um conjunto grande de obras, centenas de quilômetros de vias novas e milhares de quilômetros de vias modernizadas, enquanto atacamos frentes de obras mais simples, faremos etapas das mais complexas. Que a gente consiga fazer a maior parte nos cinco primeiros anos.”
Pelas declarações de Penin, não está previsto o uso da malha ferroviária para o transporte de passageiros, mas há movimento político junto ao governo do Estado de São Paulo para que isso possa ser feito. O governo estadual tem negociado obras de infraestrutura ligadas à mobilidade por vias férreas com o governo federal e já está em negociação a reativação de trens de transporte de passageiros entre São Paulo e cidades próximas, como Campinas e Sorocaba.
O objetivo é expandir essa oferta de serviços gradativamente para todo o Estado. E como a malha paulista passou toda para o governo federal, a concretização dos planos estaduais depende de aval federal.
A meta com todas as obras, que incluem duplicação de trechos e ampliações de pátios, é fazer com que o transporte ferroviário alcance 70% do volume de cargas que chegam ao porto de Santos, de acordo com Guilherme Penin, diretor regulatório e institucional da Rumo.