Após um ano da morte de turista vítima de descarga elétrica em banheiro público, distribuição de energia continua desativada na orla de Presiden

17/01/2024 09h00 Conforme a Polícia Civil, Daniel Timóteo Júnior, de 30 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória no dia 16 de janeiro de 2023 em decorrência do choque.
Por G1, Presidente Epitácio (SP)
Após um ano da morte de turista vítima de descarga elétrica em banheiro público, distribuição de energia continua desativada na orla de Presiden — Foto: Arquivo TV Fronteira e redes sociais

Um ano se passou desde a morte de Daniel Timóteo Júnior, de 30 anos, que sofreu uma descarga elétrica dentro de um banheiro público às margens do Rio Paraná, em Presidente Epitácio (SP). Desde o dia 16 de janeiro de 2023, as investigações para entender melhor o caso foram realizadas pela Polícia Civil e a energia elétrica no local continua desativada. O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) continua investigando as circunstâncias do ocorrido.

Há 365 dias, o turista foi até a cidade para desfrutar um período de descanso com a esposa e as três filhas.

Ao ir até o banheiro localizado às margens da orla com a filha menor, de quatro anos na época, Daniel recebeu uma descarga elétrica. A vítima chegou a ser socorrida no local e encaminhada até a Santa Casa de Misericórdia de Presidente Epitácio para receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Em entrevista ao g1, o delegado da Polícia Civil responsável pelo registro e investigação do caso, Márcio Domingos Fiorese, informou que um laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que o motorista de aplicativo morreu em decorrência da descarga elétrica, visto que ele sofreu uma arritmia cardíaca seguida de uma parada cardiorrespiratória provocada pelo choque.

Além disso, um laudo toxicológico que apura a presença de possíveis álcool etílico, drogas de abuso, fármacos, entre outras substâncias no corpo, resultou em negativo para qualquer ingestão.

Fios energizados

Ainda de acordo com o delegado, uma perícia do Instituto de Criminalística (IC) feita no local, há um ano, constatou a presença de fios sobre o contêiner do banheiro em que a vítima sofreu a descarga.

“Eles [equipe técnica] constataram a presença desses fios próximo ao contêiner, com sinais de manipulação recente. São os fios que saem do poste mesmo. O principal objetivo da equipe era verificar se eles [fios] estavam energizados, então, não foi constatado, naquele momento da perícia, que estava correndo energia, porém, a equipe constatou a presença dos fios saindo do poste sobre o contêiner e com fitas isolantes nas pontas”, relatou Fiorese.

Em razão desta constatação, o inquérito policial foi concluído e o MPE-SP requisitou que a Prefeitura de Presidente Epitácio informasse a identidade do eletricista responsável pela manutenção dos fios da estrutura.

Conforme a Polícia Civil, o pedido foi feito em agosto de 2023 ao Poder Executivo, que deveria responder dentro de um prazo de 30 dias. Na época, a administração informou que a manutenção do local era de responsabilidade das secretarias municipais de Cultura e Turismo e de Obras. Relatou, ainda, que as equipes não realizaram a manutenção nos fios dias antes do acidente.

Diante disso, a Polícia Civil reiterou o pedido em outubro do mesmo ano, alegando que a Prefeitura não havia respondido ao questionamento do MP que solicitava o nome completo do responsável pela manutenção elétrica. O Poder Executivo descumpriu o prazo de 30 dias e não respondeu ao pedido.

Em novembro, por fim, a Polícia Civil solicitou novamente os dados do profissional, mas não obteve retorno até o momento.

“Com o retorno do recesso da Polícia Civil, no final do mês de janeiro, caso a Prefeitura não responda, a corporação comunicará o Ministério Público”, reforçou o delegado.

Local sem aterramento

O g1 entrou em contato com o engenheiro eletricista que fez a primeira análise do local do acidente. Alex Neder Gomes explicou que, durante a análise, notou que o contêiner que abrigava o banheiro não estava aterrado. A medida é essencial para evitar possíveis choques elétricos.

“Precisava colocar uma haste de terra para evitar descarga elétrica de qualquer jeito. Lá, não teve isso. Em Epitácio, é muito ruim o aterramento. Já fiz várias obras lá e precisa colocar um monte de hastes até conseguir um aterramento mínimo, foi isso o que aconteceu”, explicou Alex.

O engenheiro eletricista ainda disse que todo equipamento exige que o profissional responsável coloque um cobre anexado e insira uma haste de terra, “o que não foi feito no contêiner”.

Na época, a análise de Alex não foi aprovada pela Prefeitura, devido ao valor proposto pelo engenheiro eletricista, e um outro profissional da área foi acionado para fazer a inspeção técnica.

O que fazer?

Diante do caso envolvendo o turista, o profissional explicou que cada pessoa responde à descarga elétrica de uma forma. Na maioria dos casos, ao levar um choque, a pessoa atingida fica sem reação.

“Cada corpo recebe o choque de uma forma. No caso dele, ele podia estar descalço, levou o choque. A pessoa fica totalmente deformada”, explicou.

Neste sentido, ao presenciar uma pessoa levando um choque, a orientação é não tocá-la, pois a corrente elétrica também pode atingir quem fez o contato.

“O choque é como água. Quando cai, ele vai procurar o melhor caminho para ir para a terra. Por exemplo, a pessoa passa o cabo do lado e não necessariamente um raio cai do lado do cabo, ele vai percorrendo o campo e matando a boiada, ele quer encontrar a terra para descarregar”, analisou.

O g1 conversou com outro engenheiro eletricista, que reforçou as orientações e explicou que os riscos aumentam com a presença de água.

“Todo choque é perigoso e pode ser fatal. Os riscos aumentam na presença de água e a depender de por onde a corrente elétrica circula pelo corpo da vítima. Portanto, todo contato com uma instalação elétrica deve ser evitado”, explicou Jonas Gonçalves.

Ainda conforme o profissional, ao frequentar balneários, piscinas, praias e outros locais com água, os cuidados devem ser redobrados devido a possíveis raios e, como consequência, descargas elétricas.

“Chuvas não combinam com água. O risco de uma descarga é bastante elevado. A primeira medida é buscar abrigo em uma casa, comércio, carro, etc. Não fique sob uma árvore. Se estiver em lugar descampado, sente-se, abaixe a cabeça e abrace os joelhos. Não coloque as mãos no chão. Permaneça assim até a tempestade passar”, orientou o engenheiro.

Em caso de acidentes, a orientação é acionar o Corpo de Bombeiros, pelo número 193, ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo número 192, para que os profissionais prestem os primeiros socorros de forma segura.

 

Caso certifique que a vítima não está mais em contato com a fonte de energia elétrica, é possível tentar reanimá-la com massagens cardíacas de forma adequada.

Herói

A reportagem do g1 tentou entrar em contato com os familiares de Daniel Timóteo Júnior, vítima da descarga elétrica sofrida dentro de um banheiro público às margens do Rio Paraná, porém, não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

O turista era morador de Campinas (SP) e trabalhava como motorista de transporte por aplicativo.

Ele estava em Presidente Epitácio, no dia 16 de janeiro de 2023, para passar um período de descanso com a esposa e as três filhas.

Quando recebeu a descarga elétrica, Daniel estava com a filha mais nova, de apenas quatro anos, no colo. A criança foi socorrida e encaminhada ao Hospital Regional (HR), em Presidente Prudente (SP), onde ficou internada por alguns dias, na época, com o quadro de saúde considerado estável.

Após ser levado para a Santa Casa de Presidente Prudente, Daniel não resistiu aos ferimentos e morreu.

Na ocasião, o irmão da vítima, Dener Martins, informou ao g1 que Daniel salvou a filha de levar o choque ao afastá-la do local.

“Como disse minha cunhada, ele foi um herói. Salvou a filhinha dele. O ato final da vida dele foi ser herói. Para a gente, principalmente para mim, e para as filhas dele”, disse Dener em 2023.

Ministério Público e Câmara

O g1 solicitou ao Ministério Público um posicionamento sobre as investigações do caso, que está sob responsabilidade da promotora Stephanie Okuma. Em resposta, o MP informou que não irá responder aos questionamentos, “pois o inquérito segue em andamento”.

Em nota ao g1, na manhã desta terça-feira (16), a Câmara Municipal de Presidente Epitácio informou que está cumprindo com suas atribuições e tem acompanhado o caso. Comunicou, ainda, que as últimas informações obtidas em consulta ao site do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) são de que as investigações serão mantidas por determinação do Ministério Público, sendo que, até o momento, não foi encontrado nada que responsabilize qualquer agente político ou servidor vinculado ao Poder Executivo pela morte do turista.

“Sendo assim, o Poder Legislativo permanece aguardando a conclusão do inquérito para qualquer posicionamento”, finalizou.

Falta de energia

A Prefeitura de Presidente Epitácio informou ao g1 que todos os esclarecimentos foram prestados quanto à investigação do caso pela Polícia Civil. Em relação à solicitação do Ministério Público, o Poder Executivo relatou que “instaurou um processo de sindicância, e não foi constatado um servidor responsável”.

“Desde o acidente, que infelizmente vitimou um turista, toda a transmissão de energia elétrica foi desativada do contêiner, sendo que a iluminação é apenas por luz solar”, esclareceu.

A administração municipal também relatou que os proprietários dos quiosques têm, atualmente, uma ação judicial em andamento contra a empresa fornecedora de energia no local, a Energisa Sul-Sudeste, em que requerem a religação da corrente elétrica.

“Na época, a Prefeitura solicitou uma fiscalização para constatar as possíveis causas e, durante a ação, a Energisa identificou irregularidades nos pontos dos quiosques e fez o desligamento”, observou.

Por fim, afirmou que, em contestação, a empresa alegou que procederá a religação após as instalações estarem comprovadas de acordo com as normas técnicas e com a apresentação de um responsável técnico, sendo que “a Prefeitura não faz parte desta ação”.

“A área utilizada pelos quiosques não é de propriedade da Prefeitura e o uso de geradores e resfriamento de itens é de responsabilidade dos proprietários dos estabelecimentos”, finalizou o Poder Executivo.

A concessionária Energisa Sul-Sudeste esclareceu ao g1 que realizou inspeção no local e identificou que o padrão de energia dos requerentes ainda não atende às normas técnicas e de segurança. Por isso, segundo a empresa, são necessárias as devidas adequações para que as ligações sejam executadas com segurança.

A companhia ainda reforçou que todas as orientações técnicas corretas foram dadas aos solicitantes e também aos representantes da Prefeitura.

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