Comissão do Senado aprova novo marco fiscal, que segue para votação no plenário

21/06/2023 11h35 Relatório do senador Omar Aziz (MDB-AM) recebeu aval da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Matéria deve ser votada ainda nesta quarta em plenário.
Por G1, Brasil
Comissão do Senado aprova novo marco fiscal, que segue para votação no plenário .

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou nesta quarta-feira (21) a proposta de nova regra fiscal, por 19 votos favoráveis e 6 contrários. Agora, o texto segue para o plenário do Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que vai pautar a matéria ainda nesta quarta.

A proposta, que vai substituir o teto de gastos, estabelece um piso para crescimento das despesas públicas, que só poderão subir se também houver aumento da receita.

Como sofreu mudanças durante a tramitação no Senado, o texto deverá retornar à Câmara, para uma segunda rodada de votação. Segundo o colunista do g1 Valdo Cruz, a expectativa é que a nova análise ocorra na primeira semana de julho.

O relator no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), excluiu dos limites da norma o Fundo Constitucional do DF, o Fundeb e gastos com ciência e tecnologia de forma geral.

Durante a sessão na CAE, foram rejeitadas duas emendas com possíveis mudanças ao texto. A primeira estabelecia gatilhos de contenção de despesas que seriam disparados com base na relação entre o Produto Interno Bruto (PIB) e a Dívida Pública.

A segunda excluía os gastos com o piso da enfermagem do rol de despesas submetidas ao arcabouço.

O arcabouço

O eixo central da nova regra é:

meta fiscal com objetivo de estabilizar a diferença entre a dívida do governo e o crescimento econômico:

Haverá uma faixa de tolerância para cumprimento da meta, calculada a partir de uma pequena parcela do Produto Interno Bruto (PIB), para mais ou para menos. Se o resultado do saldo do ano anterior for positivo, acima do esperado, o governo vai poder usar esse excesso para investimentos. A proposta limita o uso deste montante a 70% do crescimento registrado, até 0,25% do PIB;

se o contrário ocorrer, e o resultado for inferior ao limite da tolerância, punições, conhecidas como "gatilhos", serão aplicadas:

Já no primeiro ano de descumprimento da meta fiscal, o governo não poderá criar cargos nem realizar concurso público. Se a meta continuar abaixo do previsto depois do segundo ano de vigência do arcabouço, as sanções ficam mais rígidas. O Executivo não conseguirá criar novos auxílios e benefícios fiscais nem despesa obrigatória.

Segundo o projeto, as despesas vão ter um crescimento real (descontada a inflação) de, no mínimo, 0,6%. Os deputados fixaram, e a comissão do Senado confirmou, que o aumento real da despesa terá o limite de 2,5%. O piso para garantir investimentos públicos será equivalente a 0,6% do PIB.

Caso o novo arcabouço seja aprovado e implementado, o governo prevê:

zerar o déficit público da União no próximo ano;

superávit de 0,5% do PIB em 2025;

superávit de 1% do PIB em 2026;

estabilizar a dívida pública da União em 2026, último ano do mandato do presidente Lula.

Mudanças no Senado

Retirados da nova regra pelo senador Omar Aziz, o Fundeb e o Fundo Constitucional do Distrito Federal poderão crescer acima da regra fiscal de um ano para outro.

O Fundo Constitucional do DF é destinado ao investimento em segurança, saúde e educação no DF. Na Câmara, os deputados aplicaram o novo marco fiscal ao montante e ainda mudaram a forma de corrigi-lo ao longo dos anos.

De acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, "o impacto potencial da mudança na regra de correção dos recursos aportados no FCDF poderia variar de R$ 1,4 bilhão a R$ 9,6 bilhões [...] em um cenário extremo, esse impacto poderia chegar a R$ 24 bilhões".

Parlamentares do DF e o governador Ibaneis Rocha (MDB) vinham afirmando que a manutenção do fundo nos parâmetros do marco causaria grandes perdas financeiras. O governo local estimou prejuízo de R$ 87 bilhões, em 10 anos, se o fundo fosse incluído nos cortes do arcabouço.

O relator também ampliou a retirada do limite de despesas com ciência, tecnologia e inovação. Pela proposta inicial, já estavam fora da norma instituições federais de ciência e tecnologia vinculadas ao Ministério da Educação (MEC), instituições científicas que têm convênios com o setor público e o privado, universidades federais e empresas que prestam serviço para hospitais universitários.

Aziz ainda aceitou sugestão para incluir entre as possíveis medidas do arcabouço alienação de ativos e privatização de empresas estatais.

O parlamentar do Amazonas não mexeu no período da inflação considerado para corrigir as despesas federais, que será de 12 meses anteriores até junho — e não a projeção para todo o ano, de janeiro até o fim de dezembro. Segundo o senador, que conversou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), antes de divulgar o parecer, o deputado não quis que esse ponto fosse alterado.

Esse é um dos trechos que, segundo cálculos do Ministério do Planejamento, levarão o governo a ter de cortar R$ 40 bilhões em despesas na proposta de Orçamento de 2024.

Histórico

No ano passado, após vencer as eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negociou com o Congresso a aprovação de uma proposta que autorizou ampliação excepcional de despesas, a PEC da Transição.

O texto possibilitou ao governo cumprir promessas de campanha, como o pagamento da mensalidade do Bolsa Família e aumento do salário mínimo. No entanto, uma condição foi imposta ao Executivo: a necessidade de encaminhar ao parlamento uma nova regra fiscal, para substituir o teto de gastos.

A norma, ainda em vigor até que o arcabouço vire lei em definitivo, limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Desde que foi criada, em 2016, a regra foi constantemente mudada para que a União efetuasse gastos fora do limite.

O teto de gastos é apontado como muito rígido e foi alterado cinco vezes, em seis anos, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado.

O arcabouço foi criado para que o governo possa aumentar as despesas primárias, acima da inflação, desde que haja crescimento real das receitas. Com isso, o governo terá mais poder de investimento sem comprometer as contas públicas.

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