Em uma live realizada na tarde desta quinta-feira (30), presidida pelo prefeito de Lucélia, Carlos Ananias Junior, foi detalhado o projeto que pretende transformar a região do Santo Botelho, às margens do Rio Aguapeí (Rio Feio) em unidade de conservação, sob a configuração de Parque Natural Municipal, dentro do Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC), conforme a Lei Federal Nº 9.985/2000.
Além do prefeito, participaram da live o diretor de turismo de Lucélia, Fernando Morais, e dois especialistas no tema: o professor doutor Ferdinando Filleto, que morou na cidade até 1987 quando saiu para estudar, hoje docente nas cadeiras de extensão rural e florestal da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, que atuou na implantação do Parque Natural Municipal da Serra de São Domingos, em Poços de Caldas (MG); e o engenheiro florestal Fábio, especialista em unidade de conservação.
Após a exposição inicial sobre o tema e as informações sobre os dois especialistas, realizada pelo prefeito, o diretor de turismo, Fernando Morais, detalhou que essa mobilização, que permitiu chegar a esse projeto, foi iniciada em 2015. Ele destacou a participação do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), desde 2016, bem como o curso de turismo da Unesp de Rosana. Depois, outras instituições foram ouvidas e também mobilizadas, como a Unesp de Presidente Prudente e o Jardim Botânico de Bauru.
Relevância do local
Em seguida, Ferdinando Filleto iniciou sua exposição. Ele revelou que teve contato com esse projeto há cerca de dois anos e meio, após encontro com o diretor de turismo de Lucélia. "Era uma ideia bem concreta, na época, mas faltava encaixá-la dentro das diretrizes legais vigentes" disse.
A partir de então foram traçadas as ações seguintes. "Fizemos estudos de campo e nos baseamos também em outros estudos junto à Unesp de Rosana e Presidente Prudente. E junto ao Jardim Botânico de Bauru foi feita consulta para definir a relevância do Salto Botelho quanto à natureza, e chegamos à conclusão que seria melhor defini-lo como Parque Natural Municipal", contou.
Essa conceituação, segundo Ferdinando, se dá dentro do SNUC, considerado por ele um marco, em separar a visão do século 20 com a visão do século 21, sobre o tema.
Nessa imersão, o especialista destaca que Lucélia foi pioneira, na época, quando em 1954 criou o espaço, às margens do Rio Feio, para o conceito de recreação. Hoje, dentro da visão do século 21, o turismo se apropria do conceito de recreação e lazer e insere os conceitos de conservação e preservação ambiental.
Ferdinando descreveu a dinâmica prática para a conceituação do projeto. "O que fizemos foi buscar relevância em campo, o valor da natureza, o valor da fauna, o valor do recurso hídrico, o valor do peixe, o valor da população que é envolvida e chegamos à conclusão que o melhor objeto que existia era a transformação desse local, migrando ele de 1954 para 2020, no conceito de século 21", disse. Ele revelou-se surpreso com o trabalho a campo, nesse estudo de relevância. "Esse lugar é mais importante do que eu pensava", completou.
Parque terá 63 mil metros quadrados
A etapa seguinte da live teve a exposição feita pelo engenheiro florestal Fábio, especialista em unidades de conservação. Ele destacou dois grandes grupos, nas UC: os espaços definidos como de sustentável e os espaços de proteção integral. "Dentro do grupo de proteção integral temos várias categorias. Uma delas é parque natural municipal, o que permitiu enquadrar o Salto Botelho", justificou. "Essa categoria de parque possibilita a visitação pública. Com isso o Salto continuará sendo um local de visitação pela população", completou.
Fábio contextualizou também aspectos fundiário da região, desde 1954, quando a Prefeitura de Lucélia caracterizou o lugar como espaço de lazer e recreação, decisão rara para a época, entre os municípios, de uma maneira geral. "O Município se mostrou muito além do tempo, decretando aquela área como de interesse para criação de parque recreativo", disse.
Desde então, passadas mais de seis décadas, com todas as questões que envolvem o local, faltaram ações e mecanismos que pudessem enquadrar o espaço como área natural protegida, o que se tornou possível a partir de 2000, com a lei federal que criou o SNUC.
A configuração do Parque Municipal Natural do Salto Botelho prevê um perímetro de 63 mil metros quadrados. "Desde 1954 já se cogitava 85 mil metros quadrados. A parte fundiária está embasa em decretos e leis que a Prefeitura tem, ao longo desses anos", revelou.
Essa decisão de 1954 tomada pelo Município de Lucélia foi evidenciada pelo engenheiro ambiental, ao atribuir pioneirismo à medida. Ele citou o Parque Nacional de Itatiaia, na Serra da Mantiqueira (RJ), criado em 1937, e o Parque Nacional do Iguaçu (PR), criado em 1939. Entre os municípios, Lucélia pode pioneira ou estar entre as pioneiras, no Brasil. "Vamos levantar e falar mais sobre esse pioneirismo", comemorou.
Outro ponto celebrado pelo especialista é a característica da área do Salto Botelho como ecótono, nome dado a áreas de transição ambiental. No caso do Salto, ele disse que a região é de transição de cerrado para mata atlântica. Segundo Fábio, essa característica pode tornar o local como referência para pesquisas, despertando interesse de institutos e universidades.
Ecoturismo
A criação do Parque Natural Municipal, como UC, vai permitir constituir políticas públicas pactuadas com a comunidade, voltadas à preservação do local, bem como oportunizar o desenvolvimento do turismo, sobretudo o ecoturismo e outras práticas que não causem destruição ao ambiente ali existente. Entre as possibilidades de ecoturismo, estão os a observação aves, passeio, trilhas, trilhas interpretativas. "O turismo passa a ter qualidade. O Parque vem para regular o turismo de forma segura e adequada", reforça Ferdinando.
Ele destacou que o ecoturismo é definido no Brasil e pela Organização Mundial de Turismo como atividade de baixo impacto e que forma consciência ambientalista. Há expectativa que a efetivação do Parque também estimule pesquisas no local, promova o lazer, recreação e educação ambiental.
Ainda, a exploração segura e sustentável do turismo pode mover o setor, como meios de hospedagem, alimentação, guias e monitores de campo, com maior expectativa de empregos indiretos do que diretos, face à cadeia movimentada. "Empregos diretos não serão tão grandes quanto aos empregos indiretos", aponta Ferdinando. "Lucélia tem potencial turístico regional que é praticamente único. A intenção desse projeto é que seja irradiador de tecnologia, de desenvolvimento ambiental e turístico para a região", completa.
Agora, projeto de lei segue para a Câmara
Ao final da live, o prefeito Carlos Ananias Junior revelou que ainda nesta quinta-feira (30) seria enviado o projeto de lei à Câmara Municipal, que cria o Parque Natural Municipal do Salto Botelha, para apreciação legislativa e votação. Se aprovado, a etapa seguinte será a elaboração do plano de manejo, um documento exigido pelo SNUC que vai propiciar a gestão do parque, com todos os estudos necessários. "Ficamos aqui, de reuniões em reuniões, porém chegou o momento de um sonho tão esperado, para a população de Lucélia, para as pessoas daqui que hoje moram fora, bem como toda a população regional. Estamos dando início a uma grande etapa", disse o prefeito. "É um trabalho sério e digno, que começou lá atrás, com pessoas verdadeiras, que querem ver aquilo de pé", comemorou. O prefeito também agradeceu à Câmara Municipal, por acolher o projeto e o desafio.
O diretor de turismo, Fernando Morais, destacou a colaboração do COMTUR e citou seu atual presidente, Fábio da Costa Oliveira. Ele também se referiu à Câmara Municipal, buscando a participação e mobilização de todos. “Sem vontade política nada acontece”, afirmou.
A live detalhou os aspectos centrais do futuro Parque Municipal, mas não informou sobre eventuais medidas quanto às instalações do antigo Clube de Campo Max Wirth, que é mapeado no Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de Lucélia (acesse aqui a íntegra do documento).
A criação o Parque pode ser um passo decisivo para transformar a cidade em Município de Interesse Turístico, cujo projeto de lei tramita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.