Ano após ano, centenas de fiéis católicos se reúnem para celebrar a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes e a união entre os estados de Mato Grosso do Sul e de São Paulo, às margens do Rio Paraná. Com 76 anos de tradição, a travessia fluvial ocorre entre a cidade de Presidente Epitácio (SP) e o distrito de Nova Porto 15, em Bataguassu (MS), nesta quinta-feira (15).
De acordo com o pároco da Paróquia de São Jerônimo Emiliani, padre Enzo Campagna, as festividades religiosas têm início com a carreata que sai da Vila Tibiriçá e da Vila Bordon, em frente à Igreja de São José, em direção ao píer, em Presidente Epitácio.
Já no distrito de Nova Porto 15, em Mato Grosso do Sul, a travessia de barco pelas águas do Rio Paraná se inicia às 8h, também em direção ao píer da cidade paulista, para receber imagem de Nossa Senhora dos Navegantes.
Ao se encontrarem, os fiéis seguem em procissão para o Pavilhão de Eventos da Orla, onde ocorrerá a missa solene, às 10h, celebrada pelo bispo da Diocese de Presidente Prudente (SP), Dom Benedito Gonçalves dos Santos, como também “cocelebrada por vários padres, seja do lado de Mato Grosso do Sul e seja de São Paulo”.
Após a celebração da missa, a carreata passará pelas capelas da Paróquia de São Jerônimo Emiliani e retornará ao píer para que a imagem da santa retorne em procissão fluvial para o estado sul-mato-grossense.
Promessa ð
A tradição católica, que homenageia Nossa Senhora dos Navegantes, se iniciou em Presidente Epitácio no ano de 1948, ou seja, há 76 anos, através de uma promessa de um pai que enviou o filho para a Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.
“Primeiramente, a tradição começou a partir de uma promessa de um pai que enviou o filho para a guerra lá na Europa, na Segunda Guerra Mundial. Como ele voltou com saúde, o pai construiu uma capela e aí começou a tradição”, detalhou o padre ao g1.
Para relembrar toda a caminhada histórica, o religioso ressaltou que, no Centro de Eventos da Orla, um telão projetará uma homenagem em relação aos 76 anos de tradição antes da missa, enquanto a carreata não chega ao local.
Ele também ressaltou que centenas de pessoas participam do evento, sejam por meio de embarcações, carros, motocicletas e até mesmo percorrem a caminhada de cerca de dois quilômetros a pé até a orla.
“Hoje, [a tradição] representa não só o aspecto religioso, mas o aspecto cultural, turístico, porque esse evento não é só um evento religioso, é reconhecido pelos dois estados que, inclusive, é feriado aqui e do lado de lá também, no Mato Grosso do Sul. Então, é um evento social e cultural”, afirmou o Campagna.
Stella Maris ð
O nome provém do latim, que significa “Estrela do Mar” e é um título dado a Maria, mãe de Jesus Cristo. A homenagem transmite a devoção à Virgem Santíssima, protetora e guia para mostrar o melhor caminho pelas águas e um porto seguro para a chegada. Desta forma, assim como os navegadores são conduzidos pela estrela do mar ao porto, os católicos esperam que Maria interceda por eles e os conduza até o céu, onde está seu Filho.
Ainda conforme o padre Enzo Campagna, a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes é bem mais antiga do que a tradição da cidade.
Conhecida também como Nossa Senhora dos Mares, Nossa Senhora da Esperança ou Nossa Senhora da Boa Viagem, o pároco explicou que a devoção à santa chegou ao Brasil juntamente com navegantes portugueses e espanhóis durante o período do desembarque dos colonizadores europeus no continente americano.
“A história é mais antiga, foi trazida aqui pelos portugueses, pelos espanhóis, lá no início da vinda para as terras das Américas e trouxeram a imagem de Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora dos Mares. Seria como se fosse um guia que indica o caminho. Então, é uma devoção bem antiga e diz respeito à proteção de Nossa Senhora com os navegantes”, pontuou ao g1.
No Brasil, Nossa Senhora dos Navegantes é comemorada em três datas diferentes, sendo elas:
• 2 de fevereiro;
• 15 de agosto; e
• 8 de dezembro.
O padre explicou ao g1 que a festa é celebrada em 2 de fevereiro, entretanto, os outros dias são considerados datas marianas, que são um conjunto de celebrações em louvor e honra da figura de Maria. Por isso, outras cidades decidem comemorar neste período.
Em Presidente Epitácio, a data é celebrada em 15 de agosto devido à intensidade das correntes da água, que estão mais tranquilas neste período, no Rio Paraná.
“Na realidade, seria comemorado em 2 de fevereiro. Porém, aqui [em Presidente Epitácio], fica muito difícil por causa das correntes das águas e, nesse período, fica um pouco mais tranquilo. E só por causa disso, se escolheu o dia 15 [de agosto], que é o dia da Assunção de Nossa Senhora [dia em que os católicos celebram a elevação de Maria ao céu]. A escolha foi feita por causa disso, porém, é só um fato climático. No início, era no mês de fevereiro, mas, então, de uns anos para cá, acaba sendo nesse período porque as águas são um pouco mais tranquilas”, finalizou o padre Enzo Campagna ao g1.
• 8h: saída da Procissão Fluvial de Nova Porto 15, em Mato Grosso do Sul;
• 9h: saída em carreata da Capela de São José até o píer, que depois realiza o cortejo até o Pavilhão de Eventos da Orla Fluvial, em Presidente Epitácio; e
• 10h: Missa no Pavilhão da Orla.