Ao longo dos anos, o Canil da Polícia Militar no Oeste Paulista evoluiu na modalidade de faro e passou a chamar a atenção dos públicos interno e externo. As demonstrações ornamentais foram remodeladas para agregar à demanda operacional de combate ao tráfico de drogas, que aumentou expressivamente. Apenas nos últimos 42 meses, os cães farejadores da corporação contribuíram na apreensão de mais de 2,1 toneladas de drogas na região.
São 36 anos de histórias compostas de mudanças, dificuldades, conquistas, parcerias, que o G1 foi conhecer e apresenta em três reportagens. Passado, presente e futuro que se conectaram para o trabalho na segurança pública paulista.
Com o passar do tempo, as coisas vão evoluindo, e no mundo do crime não é diferente. Além disso, a região do Oeste Paulista está entre fronteiras que são utilizadas para a distribuição de drogas.
Sendo assim, houve a necessidade de implementar no Canil um trabalho voltado ao crime organizado e aos tráficos de entorpecentes e de armas, conforme contou ao G1 o sargento Joel de Godoi de Bueno Júnior, comandante do plantel em Presidente Prudente, que atualmente pertence ao 8º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep).
Segundo comentou o sargento Júnior, toda a evolução do trabalho foi intensificada a partir de 2010, mas as equipes continuavam com outros trabalhos de demonstrações, o que ainda tirava um pouco do foco do Canil no trabalho direto de combate ao tráfico de drogas.
Quando o sargento assumiu o Canil, em 2016, a equipe já tinha um histórico em ocorrências de tráfico de drogas, em localização e preparação de cães de faro, porém, havia uma demanda muito pequena em relação a apoio e divulgação dos trabalhos.
“A partir de 2016, quando eu assumi o Canil, a gente teve esse planejamento de direcionar o Canil à parte mais operacional e parar um pouco a parte da demonstração, aquela demonstração ornamental que existia antigamente, de fazer o cão rolar, cumprimentar”, explicou ao G1.
O sargento ressaltou que ainda há demonstração e uma espécie de apresentação dos cães à população, mas voltadas à parte operacional. A “exibição” atual consiste em mostrar como o cão atua durante um patrulhamento e como o cão morde, além de uma prévia do treinamento de faro e pista de agilidade, todos usados na rotina real.
“A gente aliou as demonstrações; fez uma transformação da demonstração antiga, que era ornamental, passando a fazer uma demonstração mais de cunho operacional, demonstrando como que nosso cão é preparado e atua perante o combate ao crime organizado”, salientou o sargento.
Essa mudança, iniciada em outros comandos, não teve resistência da tropa e também de outras modalidades de policiamento – como Rodoviário, Ambiental e Radiopatrulhamento –, pois houve a conscientização e compreensão de que “o cão é uma excelente e eficaz ferramenta para atuar frente ao combate ao tráfico de drogas”, conforme o sargento.
“Fomos às companhias, reunimos com todos os policiais e fizemos nossa apresentação, demonstramos nosso trabalho, o que o cão faz, e de maneira muito mais rápida. E demonstramos na prática pro policial a capacidade da ferramenta que nós temos na mão”, explicou ao G1.
Ainda de acordo com o sargento, "consequentemente com as localizações que foram ocorrendo durante os acionamentos, os policiais passaram a acreditar que o cão é realmente uma ferramenta fundamental pro nosso trabalho".
Apoios
De acordo com o comandante do Canil em Presidente Prudente, hoje a tropa é acionada diariamente, tanto pelas viaturas de área quanto pelas viaturas de Baep e Força Tática.
Com a instalação do Baep, as equipes atuam em uma área que atinge todos os batalhões da região do Oitavo Comando de Policiamento do Interior (CPI-8). “Nós temos a área livre para prestar apoio em qualquer localidade. Isso aumentou bastante o nosso acionamento”, afirmou o sargento ao G1.
Segundo ele, os dados variam de mês a mês, mas as equipes prestam mensalmente cerca de 70 apoios, que geram em torno de 140 a 150 locais vistoriados. Só no primeiro semestre de 2020 o Canil já apoiou na retirada de circulação de mais de 600 quilos de drogas. Em 42 meses, ou seja, três anos e meio, foram mais de 2 toneladas:
Produtividade
O sargento afirmou ao G1 que a quantidade de ocorrências que o Canil apoia atualmente e a quantidade de ocorrências até antes de 2016 “aumentou de maneira significativa”.
Não há números catalogados, mas policiais que trabalharam na época falam que eram três a quatro acionamentos no mês. Atualmente, conforme o comandante da tropa, por dia, as equipes são acionadas de seis a sete vezes, e cada acionamento muitas vezes resulta em mais de um local vistoriado.
Contato social
Com o aumento da demanda operacional houve a redução na participação de eventos sociais. Mas se engana quem pensa que a população não pode visitar e conhecer de perto os cães de faro e de policiamento.
Com a pandemia de Covid-19, as visitas ao Canil, em Presidente Prudente, estão suspensas. Contudo, para se ter uma noção, apenas em 2019 houve cerca de 5 mil pessoas catalogadas para visitação no Canil, entre elas estão escolas, organizações, Ministério Público, e magistrados, que aproveitam para verificar como é o treinamento dos cães.
“Quando eles vêm visitar o Canil nós fazemos a nossa demonstração, mas de cunho voltado mais para a parte operacional. E também tem a interação, a pessoa brinca com o cão, tira foto com os cães”, contou.
Desenvolvimento contínuo
A diversidade de emprego do cão é muito grande e, com visão de futuro, para manter o atendimento à demanda operacional da equipe frente ao combate ao crime organizado, consequentemente, seria necessário um aumento da estrutura do plantel de cães, conforme comentou o sargento.
“Não agora, mas pra uma realidade mais distante, cada batalhão deveria ter sua unidade de Canil operando pra suprir as demandas operacionais que virão pela frente”, observou.
Mas o trabalho continua intenso, mesmo que por enquanto, por vários motivos, algumas coisas ainda não são possíveis.
Os policiais do Canil em Presidente Prudente, além de treinarem os cães de faro e de policiamento – ou até de dupla função – estão preparando o cão de faro para explosivo e para armamento.
“E se for nessa linha de pensamento de visão de futuro com o emprego da ferramenta [cão], que é indiscutível a capacidade olfativa do cão, o sentido dele que é mais aguçado, e trabalhando a favor do próprio policial na rua, o futuro a gente tem a possibilidade de fazer novamente, o que perdemos uns tempos atrás, que é um cão de busca de pessoas, cão de busca de cadáveres pra catástrofes, desastres”, disse ao G1.
Pensar em como o futuro pode ser não é fácil. “Então, o futuro é complicado, se for atender toda demanda de ocorrência que a capacidade do cão terá de aumentar e muito a nossa estrutura, a quantidade de cães e, o principal, que é a mão de obra especializada para trabalhar com os animais”.
“Não é qualquer policial que tem a capacidade de adestrar um cão, que tem afinidade com o animal, que tenha disponibilidade de estudar, porque o policial que vem aqui tem que estudar, tem que se preparar em várias outras situações, como exalação de odor, matéria química, material químico, composição de substância. O policial tem que desprender tempo pra ele poder se preparar e preparar um cão. Indiscutivelmente, o cão é uma excelente ferramenta, agora o policial, a mão de obra especializada que fica complicado de ter um policial que se dedica a este tipo trabalho. É uma ferramenta que depende de outra ferramenta”, ressaltou o sargento ao G1.
"Amigo do homem"
Além do trabalho, cães, adestradores e equipe se tornam uma grande família, e quando um dos cães precisa ir embora "o sentimento é de tristeza". “Tem policiais que tatuam o cão na pele. E o cão é um confidente, parece que não, mas o cão se torna confidente”, comentou.
“O cão entende ele, se fosse pra desabafar com o ser humano, pode ser que o ser humano não entenda, mas o cão continua te dando carinho, ele continua te agradando. Então além de ser uma ferramenta extraordinária, o cão é o verdadeiro amigo do homem”, finalizou o sargento Júnior.