A menina de 4 anos picada por um escorpião no quintal de casa, em Cabrália Paulista (SP), morreu na UPA de Bauru na noite desta terça-feira (10). O corpo de Yasmin Lemos Campos foi velado e enterrado no Cemitério Municipal de Cabrália Paulista.
A mãe contou que Yasmin estava brincando quando foi picada no final da manhã de terça-feira, por volta das 11 horas. Ela matou o escorpião e levou a filha ao posto de saúde da cidade e, de lá, a menina foi de ambulância ao hospital em Duartina, cidade vizinha que fica a cerca de 10 km.
No entanto, no local não havia o soro antiescorpiônico e por isso a menina precisou ser levada para Bauru, que é referência na região para aplicação do medicamento. Só que a famÃlia alega que houve demora para essa transferência.
"Demorou muito, né? Eu estava em Duartina e, ao invés da ambulância de lá levar a gente, ligaram para uma ambulância de Cabrália Paulista. Aà ela teve que sair de Cabrália, para ir a Duartina e só depois me trazer para Bauru.", contou LetÃcia Lemos.
O prefeito de Cabrália Paulista, Zequinha Madrigal (PTB) nega que houve demora da ambulância. Segundo os registros da prefeitura, a ambulância foi acionada pelo Hospital Santa Luzia de Duartina à s 13h04 e à s 13h13, o veÃculo já estava no local para fazer a transferência da menina.
Sobre o fato de ambulância ter levado a menina diretamente para Duartina, sendo que não havia soro no local, o prefeito alegou que o hospital é o atendimento mais próximo e referência para pacientes de Cabrália Paulista.
"A nossa unidade de referência é Duartina, por isso todos os casos nós mandamos para Duartina para lá ser feito o encaminhamento para as especialidades. Mas, agora nós estamos entrando em contato com Bauru para saber se podemos mandar diretamente para lá, sem a interferência de Duartina."
O prefeito também ressaltou que não sabe o porquê do Hospital Santa Luzia, de Duartina, não ter acionado o Samu, que é regionalizado e atende 18 cidades da região, entre elas Cabrália Paulista e Duartina. O serviço inclusive pode ser acionado por qualquer morador dessas cidades por meio do 192.
Ele alega também que o hospital demorou pra acionar a ambulância municipal de Cabrália Paulista, porque achou que a injeção de controle seria suficiente.
Já a direção do Hospital Santa Luzia, de Duartina, informou que existe um acordo com as prefeituras determinando que o paciente só pode ser transportado pela ambulância da cidade onde mora. E, por isso, a menina precisou esperar a volta do veÃculo de Cabrália Paulista para só depois ser levada a Bauru.
O prefeito de Duartina, Aderaldo Pereira de Souza Junior (PP), informou que, apesar do acordo, poderia disponibilizar a ambulância do municÃpio, mas que a decisão de chamar a de Cabrália Paulista foi do hospital.
Por outro lado, o provedor hospital, Valdir Medeiros Maximino, reafirmou que seguiu o protocolo assinado com as prefeituras, acionando a ambulância de Cabrália Paulista.
Ainda sobre o atendimento de Yasmim, o hospital de Duartina disse que menina foi atendida imediatamente e como os médicos avaliaram que o estado de saúde dela era estável, já que enquanto ela esteve no local não apresentou parada e nem insuficiência respiratória.
Disse também que desde março deste ano, o hospital não recebe mais o soro antiescorpiônico e que a unidade de referência é Bauru, por isso eles fizeram o primeiro atendimento, estabilizaram a paciente e pediram a transferência para a UPA.
De acordo com a direção da UPA do Jardim Vista em Bauru, para onde Yasmin foi transferida, a criança deu entrada na unidade às 14 horas e dez minutos depois recebeu o soro. A UPA também informou que uma vaga em UTI foi disponibilizada no Hospital Estadual, mas por causa da gravidade do quadro de saúde, a criança não pôde ser transferida.
Yasmin teve duas paradas cardiorrespiratórias às 15h e 16h30 e os médicos tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu e morreu na noite de terça-feira.
Distribuição do Soro
Em nota, o Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de Bauru esclareceu que não há falta de soro antiescorpiônico na região. No entanto, na mesma nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que envio de ampolas a São Paulo continua ocorrendo de forma irregular.
Segundo a pasta, a necessidade do estado é de 650 ampolas por mês, em média, mas o Ministério tem feito entrega parcial. Neste mês, por exemplo, foram recebidas 126 ampolas.
Afirma ainda que a aquisição e distribuição de soroantiescorpiônico é de responsabilidade do Ministério da Saúde. O Estado apenas redistribui para os municÃpios.
Dessa forma, a definição de locais estratégicos para disponibilização de soro contra animais peçonhentos segue polÃtica definida pelo órgão federal. A região de Bauru conta com quatro unidades estratégicas para aplicação do soro, localizadas nos municÃpios de Bauru, Jaú e Lins.
A nota diz ainda quer todos os municÃpio têm ciência dos locais de aplicação do soro, porém o GVE irá reforçar as orientações junto à s prefeituras.
Em nota, o Ministério da Saúde esclarece que os soros antivenenos continuam sendo distribuÃdos conforme análise realizada pela Coordenação-Geral de Doenças TransmissÃveis (CGDT).
Para essa distribuição é considerada a situação epidemiológica dos acidentes por animais peçonhentos em cada Unidade Federada, as ampolas utilizadas, bem como os estoques nacional e a demanda de cada estado, além do cronograma de entregas a serem realizadas pelos laboratórios produtores.
O Ministério da Saúde envia doses de vacinas e soros aos estados, que são responsáveis por fazer a distribuição aos respectivos municÃpios.
O Ministério da Saúde reforça a necessidade do cumprimento dos protocolos de prescrição, a ampla divulgação do uso racional dos soros e a alocação desses imunobiológicos de forma estratégica em áreas de maior risco de acidentes e óbitos.
A nota esclarece ainda que para evitar desabastecimento, é importante manter a rede de assistência devidamente preparada para possÃveis situações emergenciais de transferências de pacientes e/ou remanejamento desses imunobiológicos de forma oportuna.