Menino de dois anos morre após ser picado por cascavel durante acampamento, em Panorama

21/11/2023 10h06 Vítima deu entrada no Pronto Atendimento Municipal (PAM) na noite de sábado (18), porém, recebeu o soro anticrotálico apenas na manhã de domingo (19), 12 horas depois do acidente.
Por G1, Panorama (SP)
Menino de dois anos morre após ser picado por cascavel durante acampamento, em Panorama Gael Henry Jesus Ribeiro, de apenas dois anos, morreu após ser picado por uma cascavel, na zona rural de Panorama (SP) — Foto: Reprodução/Redes sociais

Um menino, de apenas dois anos, identificado como Gael Henry Jesus Ribeiro, morreu após ser picado por uma cascavel (Caudisona durissa), na noite deste sábado (18), em Panorama (SP).

A família da criança estava acampada na região do Córrego dos Macacos, em um local conhecido como Angico, na zona rural da cidade, onde foi pescar.

Em determinado momento, o menino se deslocou até outro ponto junto a um dos irmãos, que teria ido urinar, quando foi atacado na panturrilha pela cobra, segundo a Polícia Civil.

No mesmo instante, o pai matou a serpente e a levou, junto com a criança, para o Pronto Atendimento Municipal (PAM), a fim de que os profissionais identificassem a espécie e ministrassem o soro anticrotálico, no entanto, por haver um guizo na ponta do rabo do animal, já imaginou se tratar de uma cascavel.

A vítima deu entrada na unidade de saúde por volta das 19h e foi atendida por um médico. Na ocasião, ele ministrou um soro para hidratação e antibióticos na criança, que também foi submetida a exames, ainda de acordo com a Polícia Civil.

Entretanto, apenas na manhã deste domingo (19), por volta das 7h40, é que o soro anticrotálico para o veneno foi aplicado em Gael, cerca de 12 horas após o acidente.

Em seguida, ele foi transferido para o Hospital Regional (HR), em Presidente Prudente (SP), onde deu entrada às 11h58, porém, como estava “bastante debilitado”, não resistiu e morreu às 13h02, conforme a polícia.

O corpo da criança foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para realização do exame necroscópico.

Gael foi sepultado na tarde desta segunda-feira (20), no Cemitério Municipal de Panorama.

'Cortei a cabeça da cobra', diz pai da criança

O pai de Gael, José Ribeiro, disse que conseguiu cortar a cabeça da cobra logo após o filho ter sido atacado pela cascavel.

“Meu menino aqui do lado viu na hora que a cobra atacou o mais novinho num lugar limpo. Aí rapidamente, no apavoro, eu fui lá e cortei a cabeça dela. Coloquei ela dentro de uma sacolinha e nós corremos o mais rápido possível para o hospital. Chegando aqui no hospital, o médico fez os primeiros procedimentos. Disse que ia fazer um exame nele de seis em seis horas, mas eu vi que o estado dele estava piorando. Quando o dia amanheceu, voltei à Santa Casa [e] o menino estava pior ainda. Estava geladinho. Estava dormindo, não acordava. Perguntei para o médico [e] o médico falou que ele estava bem. Os pulmõezinhos estavam funcionando, estava respirando”, disse José Ribeiro em entrevista à TV Fronteira.

O pai ainda lembrou que, quando o filho foi transferido para o Hospital Regional, em Presidente Prudente, a uma distância de mais de 140km de Panorama, o estado de saúde da criança já era “muito grave”.

“Quando foi encaminhar ele, já era em torno de umas 10 [horas], 10 e pouco. Ele já chegou lá em [Presidente] Prudente num estado muito grave. Os médicos já não tinham o que fazer muito, não. Foram entubá-lo e ele teve um ataque cardíaco. Ficaram em torno de uns 40 minutos tentando reanimá-lo, mas infelizmente veio a óbito. No meu ponto de vista, foi negligência, porque num caso desse tinha de ter transferido o menino na hora para um lugar de mais recursos”, lamentou José Ribeiro.

O irmão de Gael, Elielton Jesus Ribeiro, afirmou à TV Fronteira que houve muita demora no atendimento do paciente em Panorama.

“Eu vi a hora que a cobra deu o bote nele. Eu peguei ele do lado da cobra, porque ele caiu na hora da picada. Eu peguei do lado. Vim socorrer. Meu pai cortou a cabeça da cobra e nós viemos para a Santa Casa aqui”, disse Elielton.

“Parece que o soro foi em 12 horas. Veio uma ambulância de outra cidade para vir buscar ele para transferir para [Presidente] Prudente”, complementou o irmão.

Outro lado

Ao g1, a secretária de Saúde de Panorama, Vanessa Steluti, disse que Gael Henry Jesus Ribeiro chegou ao Pronto Atendimento Municipal e, “de imediato, o médico plantonista ligou para o Instituto Butantã e seguiu todo o protocolo”.

“A criança não apresentava sintomas e, por instrução do Butantã, não foi aplicado o soro de imediato. Porque o soro, se administrado de forma desnecessária, pode causar danos ao paciente, como um choque anafilático, por exemplo”, ressaltou.

À reportagem, ela ainda informou que, quando a criança apresentou o primeiro sintoma, o médico “entrou com o soro”.

“Pedimos a vaga para Presidente Prudente dar continuidade e a criança chegou estável [no Hospital Regional]. Agora, eu estou aguardando para saber o que aconteceu com essa criança dentro do hospital, em Prudente”, finalizou.

A secretária municipal de Saúde de Panorama, Vanessa Steluti, garantiu que a criança estava “estável” quando foi transferida para Presidente Prudente.

“Passado esse período de observação, na parte da manhã, a criança apresentou, pelos exames, uma alteração e foram feitos todos os soros necessários e pedimos a transferência a partir deste momento. Quando ela foi transferida, saiu daqui estável. Quando a médica que fez a transferência deixou a criança lá no hospital de [Presidente] Prudente, essa criança estava saturando bem e ela estava estável. De acordo com os procedimentos do [Instituto] Butantã, essa criança se apresentava estável. Então, não tinha naquele momento por que fazer a transferência. A partir do momento em que foi constatada uma alteração, imediatamente nós já fizemos essa transferência”, explicou a secretária.

Vanessa ressaltou que, para garantir a segurança do paciente, foi acionada uma ambulância equipada com uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para fazer a transferência do menino de Panorama para Presidente Prudente.

“Chamamos a ambulância UTI para resguardar o caminho, apesar de a criança estar estável aqui, nós fizemos esse trajeto com uma ambulância UTI, de acordo com o que tem de ser para a segurança do paciente, e, como eu disse, chegou até Presidente Prudente estável”, complementou a secretária de Saúde à TV Fronteira.

Em nota oficial enviada ao g1, o Hospital Regional de Presidente Prudente informou que o paciente em questão deu entrada neste domingo (19) no Pronto-socorro infantil da unidade em estado grave, às 11h58, onde foi prontamente atendido pela equipe médica e multiprofissional. Devido à gravidade do seu quadro clínico, o óbito do menino foi constatado no mesmo dia, às 13h02, ainda segundo o HR.

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