Uma vida interrompida por um disparo de arma de fogo no dia 22 de fevereiro 2003 ainda repercute na memória de Presidente Prudente. Naquela data, a estudante Mariana Braga da Costa morreu aos 18 anos, durante uma festa de calouros, ao ingressar no curso de engenharia ambiental no campus local da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Cerca de 500 calouros participavam do evento quando um tiroteio começou por volta das 2h30. Quatro pessoas foram atingidas pelos disparos, incluindo a jovem, que não resistiu.
A famÃlia da garota criou, na época, o "Movimento Mariana Braga" e, em 15 anos, a instituição já atendeu mais de 700 mil pessoas.
A bala perdida levou sonhos, expectativas e a paz da famÃlia e dos amigos.
"O tempo ameniza a dor, mas eu nunca vou me esquecer. Minha fé me ajuda a caminhar dia a dia", relata ao G1 o pai da jovem, Mário Braga, de 57 anos.
Movimento Mariana Braga realiza atividades de evangelização (Foto: Cedida/Movimento Mariana Braga)
Na época, o Diretório Acadêmico relatou ter contratado dez seguranças particulares. Além disso, um grupo de vigias da Unesp também estava no local, porém, a equipe não conseguiu evitar a troca de tiros, que envolveu não alunos que participavam do evento.
Braga lembra que a filha não queria ir à recepção dos calouros, pois ela não gostava de festas. Mariana saiu com as amigas e passou pela universidade para dar carona a uma outra companheira. No momento em que esperava a colega, ocorreu a fatalidade.
"Ela cursava assistência social em outra universidade porque dizia que queria ajudar as pessoas de graça um dia", recorda o pai.
Ele luta há exatamente 15 anos a favor da vida e pelo fim da violência em memória da filha. A dor ainda persiste, mas é aliviada quando o sentimento da perda inesperada se faz de perseverança ao perceber que a história da jovem ajudou outras pessoas.
"Nosso objetivo no movimento é realizar um trabalho de evangelização", afirma Braga ao G1.
"Acreditamos que, em se tratando de um paÃs como o Brasil, a Justiça deve começar a ser feita por cada um de nós", salienta a mãe de Mariana, Márcia Braga da Costa.
Para ela, famÃlias foram beneficiadas através da entidade.
Márcia se recorda da luta pela qual a filha passou para conseguir uma vaga em 1º lugar no vestibular da universidade pública. Ela lembra que, assim que a garota terminou os estudos no ensino médio, logo se matriculou em um cursinho pré-vestibular.
"A Mariana se empenhou muito para ingressar no curso com que sempre sonhou", recorda a mãe da jovem ao G1.
Os pais de Mariana, Mário e Márcia, com o padre da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, Rodrigo Gomes (centro) (Foto: Cedida/Movimento Mariana Braga)
Evangelização
Católicos, os pais frequentam a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, na Vila Maristela, em Presidente Prudente. O padre Antônio Sérgio Girotti, o Tutti, que era o responsável pela igreja na época sugeriu, no dia do velório, a criação de uma entidade que levasse o nome de Mariana. "Atualmente somos uma instituição que trabalha ativamente à frente da evangelização na região, no paÃs e no mundo. Organizamos retiros, acampamentos, cursos e formações religiosas", conta a mãe.
Após anos, Márcia ainda possui marcas que remetem à lembrança da filha. Para ela, Deus não faz nada por acaso. "Tudo acontece de acordo com a vontade dele. As coisas só fazem sentido quando enxergamos sua presença em cada parte da nossa história", explica.
O professor Astromar Miranda Braga, de 51 anos, tio de Mariana, diz que ela o ajudou na criação dos acampamentos religiosos que ele realiza. Ele afirma que a garota trabalhava próxima aos jovens e consequentemente dele também. "Recordo-me da alegria dela. Apesar da pouca idade, era muito madura", conta ao G1.
O tio lembra-se de um momento que ficou guardado consigo. Foi quando Mariana ingressou na faculdade e participou do “trote” em um semáforo em Presidente Prudente. Ele parou o carro e ela entrou toda pintada e suja dentro do veÃculo. "Ela me pediu uma carona, mas eu estava com pressa e a deixei rapidamente na casa dela", detalha.
"Se eu soubesse que aquela seria a última vez em que eu iria vê-la, teria feito tudo diferente", lamenta Astromar, que faz o questionamento para si mesmo.
Daquele dia em diante, o professor começou a tratar as pessoas que passam por sua vida como se a ocasião fosse "a primeira, a última e a única".
O tio de Mariana, Astromar Miranda Braga (à direita), participa de atividade de evangelização (Foto: Cedida/Movimento Mariana Braga)
Unesp
Por meio de nota, a Assessoria de Imprensa da Unesp informou ao G1 que a instituição conta, desde março de 2015, com um Grupo de Trabalho (GT) de Prevenção da Violência, instituÃdo pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária (Cepe), com a participação de docentes, alunos e servidores técnico-administrativos de diferentes unidades da universidade.
O grupo realiza ações em diversas áreas, como Prevenção da Violência; Conscientização da Comunidade e Divulgação das Ações; e Estabelecimento de Marco Regulatório e de Ações de Fomento a Direitos Humanos.
Ainda conforme a universidade, são oferecidas ações de treinamento e capacitação dos vice-diretores das unidades universitárias e dos responsáveis pelas Seções Técnicas de Saúde, assim como workshop sobre álcool e drogas, além de oficina virtual sobre o tema. Não são tolerados atos ou manifestações de prepotência ou violência de qualquer tipo ou que ponham em risco a integridade fÃsica, moral e/ou social de outros.
Prisão
No dia 26 de abril de 2004, o homem identificado como responsável pelo tiro que matou Mariana, Sidney Zanardo, foi condenado a cumprir uma pena de 20 anos de prisão pelo crime de homicÃdio. Porém, uma apelação criminal concedeu a redução da pena para 13 anos em regime fechado e seis anos em regime semiaberto.
O homem permanece preso na Penitenciária de Andradina (SP), segundo a Vara do Júri da Comarca de Presidente Prudente informou ao G1.
O processo foi arquivado.