Internautas manifestaram revolta nos últimos dias contra publicações no Instagram de uma churrascaria em Presidente Prudente (SP), que se inspirou em crimes de grande repercussão nacional para escrever frases em uma placa disposta no estabelecimento, com intenção de fazer "piadas". O gerente do estabelecimento destacou que não foi sua intenção ofender ninguém, mas também contou que as críticas recentes não mudarão o teor das postagens.
Uma delas, postada no último sábado, 28, traz o ditado popular "o cão é o melhor amigo do homem", seguido pelo nome "goleiro Bruno", em referência à forma como o corpo da modelo Eliza Samudio foi descartado após seu assassinato e esquartejamento, conforme o próprio condenado confirmou.
Outra mensagem que indigou usuários de redes sociais aborda a morte da menina Isabela Nardoni em 2008. Mais uma vez, o restaurante usou um pensamento bastante repetido: "Filho a gente não cria pra nós. Cria pra jogar no mundo", e termina com o nome do pai da criança, Alexandre Nardoni. Ele e a madrasta da vítima, Ana Carolina Jatobá, foram condenados pelo crime a 30 e 26 anos de prisão, respectivamente.
A associação feminista Frente pela Vida das Mulheres da cidade emitiu uma nota de repúdio em sua página do Facebook no sábado, quando as críticas à churrascaria começaram a se alastrar pela web.
No comunicado, elas condenam o teor das postagens da Primata Parrilla por acreditar que aquelas mensagens incentivem a "violência contra meninas e mulheres, pela apologia ao estupro, ao feminicídio e à xenofobia". É dito ainda que essa não é a primeira vez que o estabelecimento se envolve neste tipo de polêmica.
"Tal atitude naturaliza os crimes citados, desrespeita a memória das vítimas de feminicídio, de racismo, ultrapassa os limites da liberdade de expressão, incita a violência e outros, além de descumprir a função social da empresa", afirma o post.
Procurado, a Primata Parrilla se pronunciou por meio de seu gerente e social media, Daniel Arena. Por telefone, ele explicou ao EXTRA que nunca foi sua intenção causar polêmica na interntet e que aquelas postagens que deixaram pessoas ofendidas não se tratam de uma jogada de marketing.
- A gente faz essa placa todas as semanas. Toda semana postamos uma frase engraçada - afirmou. - O que aconteceu essa semana é que uma pessoa que representa um movimento feminista, algo assim, se sentiu ofendida.
Daniel, que se identificou como negro e judeu, ressaltou que pretendeu fazer "piadas", sem ter a intenção de ofender, e mostrou-se surpreso com a repercussão que seus posts tomaram nas redes sociais.
- Piada você ri e ou não ri. Não estou incitando feminicídio. Tenho esposa e duas filhas. Essas pessoas que criticaram não são meus clientes - disse. - Eu não usaria um crime para uma jogada de marketing. Minha opinião sobre feminicídio: quem assassinou tem que pagar pelo crime.
O gerente comentou ainda outra postagem muito criticada, em que diz: "Fazer as refeições juntos une a família! Etiópia, povo sem união", referindo-se à extensão da fome no país. Quanto a este post, ele esclareceu não ter tido por objetivo causar ofensas.
Apesar da controvérsia dos últimos dias, Daniel disse que isso não deve afetar a forma como trabalha o perfil da churrascaria no Instagram.
- Vamos continuar do jeito que sempre foi. Estamos em um país livre.
O gerente criticou inclusive como algumas pessoas o abordaram na web, com ameaças de atear fogo no estabelecimento.
- Não foi uma pessoa que falou: "achei que foi de mau gosto, não venho mais aqui". Foi: "não gostei, vou por fogo" — relatou. — Essa é a opinião deles. Acho bem complicada.