Um dos produtos, cujo preço tem causado espanto no consumidor, é o leite e seus derivados, como queijos, iogurtes, manteigas e afins. A Apas (Associação Paulista de Supermercados) afirma que, em 2020, o leite subiu 4,95% em julho e soma 21,62% no acumulado desde o início do ano. O motivo da subida apresentado pela associação é o mesmo apontado pelo presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto Biancardi: a seca dos últimos meses, que diminui a pastagem, alimento para o gado, em consequência, cai a produção de leite.
A partir disso, vale a antiga lei do mercado: a oferta e procura. Com menos leite chegando aos laticínios, menos produtos que têm como base a matéria-prima chega aos mercados, e se a demanda continua a mesma, os preços sobem.
“É algo esperado, sazonal”, explica Biancardi. Segundo ele, o impacto é sentido todos os anos no período da seca, principalmente pela imensa maioria do gado leiteiro da região ser criado de maneira extensiva, com toda alimentação baseada em pastagem. Criações intensivas, em confinamento, não registrariam a queda de produtividade e sequer o aumento do custo.
O presidente do Sindicato Rural ressalta, ainda, que com a volta das chuvas, que vêm sendo registradas em grandes volumes desde meados deste mês, a tendência é recuperação das pastagens e retorno dos valores a patamares mais baixos. No entanto, ele lembra que a total recuperação leva tempo, e prevê o início desta regularização entre o final de setembro e começo de outubro.
Na indústria e no comércio
A gerente comercial do Laticínio Novo Leite (localizado em Álvares Machado), Leda Fernanda Ross Carlucci, 43 anos, afirma que a produção de leite dos fornecedores caiu mais de 50% na seca. “Até maio, todos os laticínios do Brasil estavam com estoques lotados, vendendo muçarela, por exemplo, a preço baixo. No final de maio, de repente, o leite "sumiu", e, por isso, a muçarela e os demais derivados subiram”, destaca. Segundo a Apas, “em julho, o valor da muçarela subiu 11,6%, e o queijo prato quase 9%”.
A gerente comercial pontua que todos os anos há essa falta de matéria-prima, mas desta vez foi pior, visto que, enquanto na região é entressafra, no sul do país a produção continua acelerada. Desta vez, porém, os Estados do sul também tiveram uma severa estiagem. Leda garante que os preços altos não significam ganho dos laticínios, visto que, se antes entregavam 2 mil quilogramas de derivados, agora conseguem suprir uma demanda muito menor, de 200 quilogramas, por exemplo.
O caso dos mercados é parecido. O gerente comercial do Supermercado Estrela, Alexandre Marques Ferreira, 45 anos, diz que registram falta do produto, mas, por outro lado, os clientes não têm evitado a compra de leite, mas, de um modo ou de outro, têm reduzido. “O mercado ainda nem repassou o preço correto ao consumidor, estamos segurando o preço por conta da concorrência e para não assustar o consumidor”, garante.
O subgerente do Supermercado Avenida, Rogério Souza Alexandre, por sua vez, lembra de um detalhe que impede que a diminuição da procura pelo produto ocorra. “Em período de pandemia, as crianças passam todos os dias em casa, e são elas os maiores consumidores de leite e alguns derivados como iogurtes”, aponta.