O Oeste Paulista é conhecido pelas altas temperaturas e, em Presidente Prudente, isso se potencializa ainda mais no período noturno, conforme mostra um estudo realizado pela FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista). As chamadas "ilhas de calor" ficam até 8ºC mais quentes no perímetro urbano diante da zona rural próxima em noites estáveis sem chuvas ou ventos. Nos demais horários do dia, a variação está entre 3ºC e 4ºC.
De acordo com a geógrafa pesquisadora, Margarete Cristiane da Costa Trindade Amorim, não é possível separar em bairros as situações mais intensas, porém, "é notório que localidades com mais arborização, como loteamentos antigos, possuem vantagem na temperatura em relação a novos loteamentos, como conjuntos habitacionais de construções densas e pouca área verde".
A geógrafa, que estuda o fenômeno das ilhas de calor há mais de 15 anos, explica que para chegar a um resultado com um nível de detalhamento como esse, precisou ser desenvolvida uma "metodologia inovadora". Essa, que foi realizada em parceria com Vicent Dubreuil, professor da instituição francesa Universidade de Rennes, tem o propósito de gerar mapas a fim de ilustrar melhor os pontos de cada concentração de calor.
Áreas quentes
Foram nove meses de coletas de dados em 26 pontos espalhados em espaços urbanos e rurais próximos de Prudente. Os sensores registravam a temperatura em diversos bairros de hora em hora todos os dias e juntamente com imagens da topografia local (mapas de uso da terra) foi feita a modelagem da ilha de calor urbana. Em uma verificação in loco da equipe foram verificadas ilhas de calor urbanas com temperaturas estimadas entre 17ºC e 18ºC no centro comercial de Prudente, área com muitas construções e pouca arborização. Já nos bairros residenciais a temperatura ficou entre 15ºC e 17ºC.
Na periferia mais arborizada e com menor área edificada a temperatura registrada foi entre 13ºC e 14ºC enquanto nos bairros populares, com ausência de cobertura arbórea, onde os terrenos são pequenos e densamente construídos, as temperaturas medidas variaram entre 14ºC e 16ºC. Já nas áreas no entorno rural próximo, com predomínio de pastagens, as temperaturas variaram entre 10ºC e 13ºC. Os condomínios fechados de alto padrão construtivo, com terrenos grandes e arborizados, apresentaram temperaturas semelhantes às do ambiente rural, entre 10ºC e 13ºC.
Conjuntos Habitacionais
Em Prudente, nos conjuntos habitacionais de baixo padrão, no período diurno, as temperaturas podem ultrapassar os 36ºC, devido às características do clima regional e à alta densidade construtiva (terrenos pequenos com solo impermeabilizado). Isso dificulta, por exemplo, a infiltração de água e o plantio de vegetação. Os materiais construtivos também contribuem para o aquecimento do ar. Nas construções populares das décadas de 1980 e 1990 os telhados eram de fibrocimento - cobertura que não oferece conforto térmico ou proteção. As moradias se tornam como "bombas térmicas", visto que o calor entra e fica armazenado e as temperaturas são bastante elevadas, se desdobrando para a área de entorno.
Essas áreas mais quentes geram diferenças na pressão atmosférica e recebem os poluentes produzidos nos arredores, o que é prejudicial inclusive para a da saúde, ocasionando problemas respiratórios e alergias. Morador do Residencial João Domingos Netto há três anos, Pedro Luís Ferreira, 29 anos, conta que o bairro "sempre foi muito quente". Dividindo a casa com a esposa e um filho, explica que não tem como passar "um minuto do dia sem ventilador". Ao ser informado que o local está situado em uma das zonas com maior concentração de calor da cidade, o prudentino concorda e complementa ao dizer que, às vezes, "parece ter um sol de meio-dia dentro de casa, mas à noite".
Conclusões
A docente ressalta que mapear esse fenômeno serve como um auxílio ao poder público que, além de conhecer a situação, terá base para o desenvolvimento de ações em localidades específicas voltadas ao meio ambiente. Por essa razão, o plano é estabelecer uma reunião com a gestão municipal a fim de apresentar os resultados obtidos. Segundo Margarete, o estudo possibilitou entender que as ilhas de calor estão diretamente ligadas à atividade humana, ou seja, construções, asfaltos e demais aspectos que facilitam a formação do ar quente. No entanto, isso se ameniza em contextos de instabilidade climática, como chuvas e ventos fortes. O motivo, conforme explica, é que a área urbana retém a sensação térmica durante o dia, e com o auxílio desses fenômenos, consegue dissipar mais fácil no ar noturno, reduzindo a temperatura. Coisa que "ocorre na zona rural e não na cidade em dias estáveis".
Ademais, a pesquisadora denota que cerca de 70% da população brasileira vive em cidades de médio e pequeno porte, logo "existem problemas que são muito importantes e devem ser estudados por interferir diretamente na qualidade de vida das pessoas". Já que, conforme ela, o excesso de calor serve de estopim para o surgimento de problemas de saúde, que podem se intensificar devido alguns aspectos. "Existem bairros na cidade que são mais quentes também pela existência de telhados de fibrocimento, mas, mesmo assim, toda a cidade possui, de alguma forma, alguma manifestação do fenômeno", frisa.
O QUE SÃO ILHAS DE CALOR?
As ilhas de calor urbanas são fenômenos climáticos associados à redução de áreas verdes, ocupação do espaço por obras de concreto e asfalto, adensamento populacional e poluição gerada pela atividade humana. Geralmente elas ocorrem na ausência de vento e chuva e são caracterizadas pelo aumento da temperatura do ar em relação ao meio rural, principalmente à noite. Mais informações podem ser obtidas aqui.
SAIBA MAIS
Financiado pelo Fapesp (Projeto Regular da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o estudo engloba cidades de pequeno e médio porte - entre 100 mil e 500 mil habitantes. Prudente, tem população estimada de 227 mil pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).