A aposentada Encarnação Morata, de 90 anos, moradora de Lucélia (SP), recebeu nesta sexta-feira (19) a segunda dose da CoronaVac, imunizante contra a Covid-19 fabricado em parceria pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac Biotech. Porém, esta foi a terceira dose de vacina que ela tomou contra o novo coronavírus, já que antes foram-lhe aplicados os imunizantes do Butantan/Sinovac e da AstraZeneca/Oxford.
"Ela tomou a segunda dose da CoronaVac no Centro de Saúde. Minha tia e minha prima a levaram. Deu tudo certo e a família está mais tranquila agora porque a situação [da pandemia] está muito triste", afirmou o técnico de enfermagem Alex Rosa de Assis, que é neto da idosa.
Ele trabalha em uma unidade de saúde em Botucatu (SP), na linha de frente de combate à Covid-19.
"Trabalho onde temos muito mais recursos do que em Lucélia e já estamos no limite do limite. E a minha preocupação é pelo meus familiares aí na região [de Presidente Prudente (SP)]. Então, ela estando vacinada, é um alívio", ressaltou.
Terceira dose
Agora, o comprovante de vacinação da idosa está preenchido totalmente à caneta. Antes, o papel apresentava em azul a data da primeira dose da CoronaVac, em 12 de fevereiro. A lápis, do outro lado, constava o dia da segunda dose: 05/03/2021.
Porém, no dia indicado, o município aplicou uma dose do imunizante da AstraZeneca/Oxford. Ou seja, a moradora de Lucélia tinha dois comprovantes de vacinação com doses de diferentes fabricantes.
O equívoco foi descoberto pelo neto, que mora a mais de 330 quilômetros de distância da avó, quando a tia enviou-lhe uma foto do segundo comprovante de vacinação no grupo de WhatsApp da família. Na época, Assis disse que a Prefeitura de Lucélia alegou que o erro era da família, que não avisou qual era o fabricante da primeira dose.
Ele falou que o município informou apenas que seria aplicada a segunda dose da CoronaVac, sem dar "nenhum tipo de desculpas" pelo erro cometido.
"Eles não pediram desculpas até hoje. Existem sérios protocolos que precisam ser seguidos e não foram. Se tivessem aplicado a segunda dose certa, nada disso teria acontecido. Isso também é um desperdício, porque é uma pessoa a menos para receber a vacina [da AstraZeneca]. E, na situação que a gente está vivendo [de pandemia], quanto mais gente vacinada, melhor para todos", destacou o técnico de enfermagem ao G1.
Denúncia
Assis afirmou que encaminhou ao Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) os nomes de duas enfermeiras envolvidas na aplicação da dose da vacina da AstraZeneca/Oxford. O órgão informou que a manifestação será apurada e que serão tomadas as medidas cabíveis, dentro do âmbito de atuação do Coren-SP.
"Denunciei as enfermeiras pelo erro, pela falta de ética no atendimento e pela falta de educação em nos explicar o que aconteceu", salientou o técnico de enfermagem ao G1.
Dose descartada
O G1 questionou a Prefeitura de Lucélia sobre a aplicação de vacinas de diferentes fabricantes na idosa. Por meio de nota, na ocasião, o município informou que a "equipe que se dirigiu até a residência da paciente não fora informada pelos familiares da mesma que ela teria sido vacinada anteriormente, bem como não informaram a dose que teria sido utilizada".
“Na hipótese de um paciente receber a vacina de um determinado laboratório, e receber outra dose de outro laboratório, consequentemente, a última dose aplicada é considerada inválida e a dose de reforço deverá ser feita conforme a 1ª dose, respeitando o intervalo mínimo de duas semanas a partir da dose que foi administrada equivocadamente, conforme orientações contempladas no Documento técnico - Campanha de Vacinação Contra a Covid”, informou o diretor de Saúde e Saneamento de Lucélia, Laércio Parússolo dos Santos Júnior.
Nesta sexta-feira (19), a Prefeitura de Lucélia confirmou ao G1 que a idosa recebeu a segunda dose da CoronaVac.