Apesar da longa lista de espera, que já atinge 66.273 mil pessoas, quase metade das famílias recusam a doação de órgãos de seus familiares, apontam dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Segundo levantamento feito pela entidade no ano passado, 46% das famílias entrevistadas pelas equipes de saúde recusaram a doação. Os elevados índices de recusa familiar são um dos entraves para o crescimento dos transplantes de órgãos no Brasil.
Segundo a coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), Daniela Pontes, as equipes de doação oportunizam aos familiares de pacientes que podem doar seus órgãos essa possibilidade por meio da explicação de como funciona o processo, mas não fazem um papel de convencimento ativo, em razão da dificuldade do momento.
— A gente não convence a família, damos a opção para a doação. A gente entende que é um gesto difícil, é difícil optar pela doação no momento do falecimento. Mas explicamos todo o processo, e cabe à família decidir. Quem trabalha com doação, conversa com a família e dá a oportunidade da doação — afirma.
Em 2022, segundo o levantamento feito pela ABTO, das 13.195 notificações de potenciais doadores, 3.528 foram doadores efetivos. Além da recusa da família, outros fatores podem impedir a doação como contraindicação médica.
Apesar da média de 46%, em alguns estados o índice de recusa familiar ainda é consideravelmente alto. Na Bahia, por exemplo, das 484 entrevistas realizadas, houve recusa em 376.
Em 2023, segundo dados do Ministério da Saúde, a Bahia realizou 564 transplantes, menos do que Santa Catarina, por exemplo, que tem pouco mais da metade dos habitantes.
Segundo Daniela Pontes, além do processo de incentivo à população para a doação de órgãos, existe uma tentativa de levar mais centros de alta complexidade para mais regiões do país. Muitos estados sofrem não apenas com a falta de doações mas também com a falta de equipes capacitadas para realizar os transplantes.
— Não dá para ter um centro de alta complexidade em todo lugar, mas precisamos criar centros de excelência e a gente quer estimular cada vez mais esses centros a atenderem as demandas da nossa população, mas entendendo que transplante só se houver doação. Não tem como atender a gente atender a lista toda se não houver a doação dos órgãos — afirma.