O Hospital das Clínicas de São Paulo investiga casos de sete pacientes com suspeita de reinfecção pelo coronavírus. Pesquisadores estão fazendo sequenciamento genético para avaliar se são vírus diferentes, se houve mutação ou se o mesmo vírus da primeira infecção voltou a se manifestar. Outros oito pacientes estão sendo monitorados pela USP de Ribeirão Preto, totalizando 15 casos de possíveis reinfecções no estado.
O mundo está em alerta pra suspeitas de reinfecção pela Covid-19. Em Hong Kong, cientistas informaram que um paciente de 33 anos, sem doenças pré-existentes, pegou o vírus pela segunda vez, quase cinco meses depois da primeira infecção. Bélgica e Holanda também relataram diagnósticos parecidos.
No Brasil, a discussão começou depois que médicos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto divulgaram o caso de uma técnica de enfermagem, de 24 anos, que trabalha em uma Unidade Básica de Saúde. Pesquisadores da USP ainda analisam os exames, para confirmar se ela foi mesmo contaminada mais de uma vez.
Na capital paulista, o Hospital das Clínicas separou um ambulatório para acompanhar possíveis casos de reinfecção. Sete pacientes com quadros leves já procuraram a unidade e estão sendo investigados.
A médica anestesista Jussara Resende, que trabalha em São Bernardo do Campo, no ABC, relata que no final de março começou a sentir cansaço, fraqueza e perdeu o paladar. O exame mais indicado (RT-PCR), que colhe uma secreção do nariz e da garganta confirmou a suspeita: ela estava com Covid-19.
Quinze dias depois do início do tratamento, ela realizou outro teste RT-PCR que deu negativo. negativo. Mas em julho, a médica voltou a sentir os sintomas.
“Como eu tenho bronquite e alergia, então eu sentia um pouco falta de ar, achava que era poeira. um pouco de tosse seca, eu tive um pouco de febre, mas não associei ao Covid, até o dia que eu perdi o paladar. Comecei a sentir dores articulares, na parte superior do meu braço e aí no dia seguinte eu senti a minha garganta fechar”, conta a médica.
Ela refez o teste e mais uma vez deu positivo.
“É bem nítido que essas pessoas tiveram doença muito compatível com corona vírus, nos dois momentos. Todas tiveram o vírus isolado em dois momentos e dessas 7, duas fizeram o teste no meio que era negativo. Então tiveram teste negativo PCR no meio, entre as duas doenças, sugerindo que o vírus tinha sido eliminado. Existe realmente uma possibilidade de infecção”, diz o infectologista do HC Max Igor Lopes.
O sequenciamento genético do vírus está sendo analisado pelos pesquisadores. Há várias possibilidades: uma delas, é que a pessoa infectada na primeira vez, pode carregar "restos" do vírus no organismo e ele se manifesta de novo. Outra hipótese é que o vírus pode sofrer uma mutação genética. Mas esses casos ainda são raros.
Para os especialistas, ainda é cedo para dizer se uma possível reinfecção pode impactar no desenvolvimento de uma vacina. O mais importante agora é manter as medidas de proteção.
“Não há motivo algum para pânico, mas há sim motivo para preocupação que já existe, por causa da circulação atual do sarcov-2. Duas medidas são efetivas na prevenção e na contensão dessa pandemia: o distanciamento social, que tem que ser respeitado, mesmo aqueles que sabem que já tiveram a infecção. e o uso universal da máscara”, diz o infectologista do Emílio Ribas Jaques Stainbok.