Maioria em consulta pública foi contra exigir receita para vacina de Covid em crianças, diz governo

05/01/2022 06h40 Secretária do Ministério da Saúde citou números conflitantes de respostas à consulta; pasta também afirma que maior parte foi contra obrigatoriedade da vacinação, mas levantamento não permitia que pessoas se manifestassem a favor.
Por G1, Brasil
Maioria em consulta pública foi contra exigir receita para vacina de Covid em crianças, diz governo Profissional de saúde prepara dose da vacina da Pfizer em Seixal, Portugal, no dia 11 de setembro. ( Foto: Pedro Nunes/Reuters)

O governo federal anunciou, nesta terça-feira (4), que a maioria das pessoas que responderam à consulta pública sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 se opôs à necessidade de receita médica para imunização dessa faixa etária (veja mais no vídeo acima).

O governo também informou que a maioria das pessoas foi contra obrigatoriedade da vacinação nessa faixa etária. O levantamento, entretanto, não permitia que as pessoas se manifestassem a favor dessa obrigatoriedade, ou seja: não havia uma pergunta que questionasse se as pessoas eram a favor da vacinação obrigatória. As perguntas da consulta já haviam sido bastante criticadas por especialistas.

A pergunta da consulta foi a seguinte: "você concorda com a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de forma não compulsória conforme propõe o Ministério da Saúde"?

As respostas foram anunciadas pela secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, a médica Rosana Leite de Melo, durante a audiência pública realizada pela pasta para discutir o tema. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que já havia recomendado a vacina, não participou da reunião.

A secretária não detalhou a quantidade de respostas para cada opinião (contra ou a favor da necessidade de receita). Tampouco informou sobre a concordância com a não obrigatoriedade da vacinação de crianças. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a receita médica para vacinação das crianças.

Audiência

Sociedades médicas e científicas defenderam a vacinação de crianças de 5 a 11 anos na audiência pública desta terça.

O médico Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), lembrou que outras doenças, cujas imunizações estão no calendário de vacinação infantil, mataram menos do que a Covid-19 em crianças.

"O objetivo da vacinação é prevenir hospitalizações e complicações da doença. É isso que se propuseram as iniciativas dos programas de vacinação: prevenir hospitalizações e mortes", reforçou.

"Claro que [as vacinas] reduzem transmissão, mas em patamares diferentes", lembrou. O argumento se refere ao fato de que, mesmo vacinadas, as pessoas ainda podem se infectar com o vírus – mas a ideia das vacinas é que elas não desenvolvam quadros graves da doença nem morram.

Sobre a questão dos eventos adversos, entre eles a miocardite, Sáfadi lembrou que o problema tem risco ainda maior de ser causado pela própria Covid-19.

"Mesmo no grupo de adolescentes, meninos, púberes, que registram os maiores casos de miocardite pela vacina, esses números são dezenas de vezes inferiores ao risco de miocardite atribuído à própria Covid-19“, afirmou. "A vacina em adolescentes teve efetividade para prevenir hospitalizações de 93%".

Além da vacinação, a médica infectologista Rosana Richtmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), defendeu também a não exigência de receita médica para vacinação das crianças.

"Tenho experiência com atividade social, com a população ribeirinha na Amazônia. Como é que você vai vacinar as crianças da Amazônia precisando de prescrição médica? Isso, na minha opinião, vendo o país como um todo, é uma barreira muito grande para a implantação desta vacinação", opinou.

Indicados pela deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL), vinculados à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, também foram à audiência – e defenderam a não vacinação das crianças usando informações distorcidas ou incorretas.

O representante da comissão Roberto Zerballos, por exemplo, afirmou que a vacina ainda é "emergencial" – mas isto não é verdade. A vacina da Pfizer, que foi a recomendada pela Anvisa para aplicação nas idades de 5 a 11 anos, recebeu aprovação definitiva – e não apenas emergencial – da agência em fevereiro do ano passado.

Segundo Rosana Leite de Melo Melo, 99.309 pessoas responderam à consulta no site do ministério. Na véspera, entretanto, o próprio Ministério da Saúde havia informado que recebeu cerca 24 mil respostas à consulta pública.

A dúvida sobre a quantidade de respostas se deve ao fato de que, inicialmente, as respostas à consulta pública estavam sendo recebidas em uma plataforma de formulários da Microsoft. A plataforma, entretanto, esgotou a sua capacidade de recebimento de respostas.

Depois disso, o Ministério da Saúde criou uma nova página para a consulta, esta hospedada em uma página oficial do governo – que recebeu, no total, 23.911 respostas.

Na segunda-feira (3), o g1 questionou o ministério sobre quais respostas seriam consideradas para o levantamento dos resultados: se apenas as da segunda página, do governo, ou se também as do formulário inicial. A pasta não deu retorno.

A consulta feita pela pasta tem sido criticada por especialistas e pelos próprios técnicos da Anvisa. O Brasil tem cerca de 20,5 milhões de crianças de 5 a 11 anos de idade, segundo o IBGE.

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