Os kits de testes rápidos para Covid-19 que foram o núcleo de uma operação policial nesta semana, em Adamantina, poderiam ser utilizados pela saúde pública da cidade. O Sindicato Rural local recebeu 2.700 kits de testes por meio do programa “Promovendo a Saúde no Campo”, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-SP).
Nas redes sociais, ao comentar um apontamento feito por internauta, uma representante do Sindicato escreveu que teria sido feito contato com um representante da Secretaria Municipal de Saúde e oferecidos os 2.700 kits, em doação, à saúde pública de Adamantina. Passados 30 dias, os kits ainda não haviam sido retirados.
Essa mesma afirmação, sobre o contato para doação dos kits, foi relatada pela representante do Sindicato nos autos do inquérito policial. Procurada pelo SIGA MAIS nesta sexta-feira (16), a representante confirmou o dado e disse que o volume a ser doado poderia chegar a 5 mil kits.
Na manhã de hoje, às 8h11, o SIGA MAIS enviou à Prefeitura de Adamantina um pedido de nota sobre o caso, aos e-mails imprensa@adamantina.sp.gov.br com cópias para gabineteadt@adamantina.sp.gov.br e saude@adamantina.sp.gov.br, que não foram respondidos dentro do prazo solicitado.
Testes são originais e têm procedência, mas não teriam sido manuseados de forma adequada e com segurança
Os kits recebidos pelo Sindicato Rural são originais e tem procedência legal, com documentos já juntados nos autos da investigação. São do tipo IGG/IGM, que utiliza amostra de sangue do indivíduo para identificar se uma pessoa esteve em contato com o vírus Sars-Cov-2. Mas para que o resultado seja válido, o exame precisa ser feito no período certo e interpretado corretamente por profissional habilitado.
Assim, considerando o desfecho até então conhecido, nesta semana, os testes poderiam ser usados de forma adequada e com segurança pelo próprio Sindicato ou entidades, como prefeituras e instituições, conforme as normas sanitárias e do próprio protocolo da FAESP e SENAR-SP para o programa.
Segundo especialistas, quando se faz um teste sem condições adequadas e sem autorização dos órgãos de vigilância sanitária, as pessoas podem eventualmente estarem expostas a uma contaminação ainda maior. Além disso, os riscos de casos positivos não serem notificados oficialmente para os órgãos oficiais de saúde dificulta o mapeamento, os procedimentos de saúde pública para o tema e providências de prevenção.
Outro ponto crítico, nesse cenário, envolve aqueles testados que deram resultado negativo (o que pode ser um falso negativo ou realizado em período que não é detectável, embora esteja contaminado), que acabam se comportando equivocadamente no direito de não mais respeitar o distanciamento social e assim, contribuem para a disseminação do vírus. Para que haja um ambiente de segurança, a testagem exige espaço adequado, profissional habilitado, armazenagem e transporte adequados, a informação sobre aquele que será testado acerca do período que suspeite ter sido exposto a algum contato que teria provocado a contaminação, entre outros aspectos técnicos, definidos pelos próprios laboratórios fabricantes e órgãos da vigilância sanitária e fiscalização.
Em Lucélia, pelo mesmo programam, testes foram doados pelo Sindicato e recebidos pela Prefeitura
Pelo mesmo programa, o Sindicato Rural de Lucélia recebeu 2.400 kits de testes enviados pela FAESP e SENAR-SP e no início da segunda quinzena de março doou à Prefeitura da cidade, que por sua vez alocou os testes sob os cuidados da Secretaria Municipal de Saúde.
Procurado pelo SIGA MAIS nesta sexta-feira, o médico Guilherme Dias Bonadirman disse que os kits têm sido usados para testagem em massa, em procedimentos organizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Lucélia e a Central Covid da cidade, onde atua. “Estamos usando para testagem em massa e começamos pelos funcionários públicos”, disse. “Já foi testado todo setor de educação, paço municipal, INSS, assistência social e almoxarifado. Agora estamos nos organizando para finalizar os funcionários públicos restantes e em seguida vamos testar alguns serviços essenciais como os funcionários de supermercados e postos de combustível”, explica.
O médico participa da aplicação dos testes e presta orientações nos locais. Ele vai aos locais com sua equipe de enfermagem e juntos fazem conscientização sobre prevenção e sobre o funcionamento dos testes, com desdobramentos imediatos. “O resultado eu mesmo forneço e já tiro as dúvidas dos testados”, diz. “Estamos identificando vários que tiveram a doença na forma assintomática, já isolando e acompanhando os assintomáticos com doença ativa”, continua.
Guilherme ressalta também que na Central Covid a equipe tem extraído informações dos pacientes, e ainda sobre o local onde trabalham e de seus familiares, gerando uma ação objetiva, nesses pontos, com os testes, na tentativa de mapear novos casos e conter novas transmissões. “Os locais que estamos testando estão sendo escolhidos através dos dados colhidos com os pacientes atendidos”, finaliza.
Mais sobre o caso desta semana em Adamantina
A apuração policial desencadeada nesta semana em Adamantina resultou na prisão e autuação de uma mulher no momento em que realizava a aplicação dos testes originados do Sindicato Rural, em uma empresa da cidade. Levada à polícia, ela foi ouvida e dispensada para responder em liberdade, sob as acusações de infringir medida sanitária preventiva (artigo 268 do Código Penal) e por contravenção de exercício ilegal da profissão ou atividade (artigo 47 da Lei de Contravenções Penais), já que, segundo a polícia, não apresentou certificação profissional, não sendo habilitada tecnicamente para a testagem.
Em nota (íntegra abaixo) distribuída à imprensa nesta quinta-feira (15), o Sindicato Rural esclarece que a mulher presa na ação policial também se apresentou como técnica de enfermagem, inclusive apresentando o certificado, e que participava de forma voluntária na testagem de produtores rurais durantes os cursos promovidos pelo SENAR-SP, sob supervisão da coordenação do Sindicato e seguindo os protocolos sanitários exigidos pelo programa.
Segundo informa o site da FAESP/SENAR-SP, o programa Promovendo a Saúde no Campo tem como objetivo realizar testes do tipo IGG/IGM nos produtores e trabalhadores rurais paulistas. Além dos sindicatos rurais, a ação é desenvolvida em parceria com prefeituras, instituições, universidades e demais entidades do Estado de São Paulo, com apoio da Fiocruz.
Na nota à imprensa, sobre o caso desta semana, “o Sindicato Rural de Adamantina reitera que não tinha conhecimento de parte que desse material estava sendo utilizado de forma irregular pela suposta auxiliar em um estabelecimento comercial da cidade. Uma apuração interna foi instaurada para saber como parte dos testes foi desviado”.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
"O Sistema FAESP/SENAR-SP iniciou em todo Estado de São Paulo o Programa “Semear da Esperança”, com objetivo de testar os produtores e trabalhadores rurais para Covid-19 e contribuir no mapeamento do vírus no Estado.
Desde o início do Programa, a entidade orientou os sindicatos rurais sobre os regulamentos para realização dos testes e os protocolos sanitários obrigatórios, bem como a necessidade de profissionais habilitados para execução e aplicação dos testes rápidos de Covid-19.
No total, foram disponibilizados até o momento cerca de 300 mil testes, divididos em várias fases, aos sindicatos rurais patronais.
Ao sindicato rural de Adamantina, o Sistema FAESP/SENAR-SP enviou 2.700 testes rápidos. O Sistema FAESP/SENAR-SP destaca que compete aos sindicatos rurais todo processo de recebimento, destinação e aplicação dos testes.
Sobre a apreensão citada na reportagem, o Sindicato Rural esclarece que a mulher presa na ação policial também se apresentou como técnica de enfermagem, inclusive apresentando o certificado, e que participava de forma voluntária na testagem de produtores rurais durantes os cursos promovidos pelo SENAR-SP.
Durante essas testagens, a envolvida na ocorrência policial aplicava os testes sob supervisão da coordenação do sindicato e seguindo todos os protocolos sanitários exigidos pelo programa.
O Sindicato Rural de Adamantina reitera que não tinha conhecimento de parte que desse material estava sendo utilizado de forma irregular pela suposta auxiliar em um estabelecimento comercial da cidade. Uma apuração interna foi instaurada para saber como parte dos testes foi desviado.
O Sistema FAESP/SENAR-SP/SINDICATOS, por ser composto por entidades de direito privado, reitera que que está comprometido com a saúde dos produtores e trabalhadores rurais, buscando sempre contribuir e apoiar as ações de interesse dos seus representados.
Departamento de Comunicação do Sistema FAESP/SENAR-SP".